ATA DA QÜINQUAGÉSIMA PRIMEIRA SESSÃO ORDINÁRIA DA PRIMEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 31.05.1989.
Aos trinta e um dias do mês de maio do ano de mil novecentos e oitenta e nove reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Qüinquagésima Primeira Sessão Ordinária da Primeira Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura. Às quatorze horas e quinze minutos foi realizada a segunda chamada, sendo respondida pelos Vereadores Adroaldo Correa, Airto Ferronato, Artur Zanella, Clóvis Brum, Cyro Martini, Décio Schauren, Dilamar Machado, Edi Morelli, Elói Guimarães, Ervino Besson, Flávio Koutzii, Gert Schinke, Giovani Gregol, Heriberto Back, Isaac Ainhorn, João Dib, João Motta, José Alvarenga, José Valdir, Lauro Hagemann, Leão de Medeiros, Letícia Arruda, Luiz Braz, Nelson Castan, Omar Ferri, Valdir Fraga, Vicente Dutra, Vieira da Cunha, Wilson Santos e Wilton Araújo. Constatada a existência de “quorum”, o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e solicitou ao Ver. Airto Ferronato que procedesse à leitura de trecho da Bíblia. A seguir, o Sr. Secretário procedeu à leitura das Atas da Qüinquagésima Sessão Ordinária e da Décima Sexta Sessão Solene que, juntamente com a Ata da Quadragésima Nona Sessão Ordinária, foram aprovadas. À MESA foram encaminhados: pelo Ver. Cyro Martini, 05 Pedidos de Providências; 01 Indicação; pelo Ver. Edi Morelli, 01 Pedido de Providências; pelo Ver. Isaac Ainhorn, 06 Pedidos de Providências; pelo Ver. João Dib, 01 Projeto de Lei do Legislativo nº 69/89 (proc. nº 1544/89); pelo Ver. Leão de Medeiros, 01 Pedido de Providências; pelo Ver. Luiz Machado, 01 Pedido de Providências; pelo Ver. Omar Ferri, 01 Pedido de Informações; pelo Ver. Valdir Fraga, 04 Pedidos de Providências; pelo Ver. Vicente Dutra, 01 Pedido de Providências; 01 Indicação; pelo Ver. Wilson Santos, 01 Pedido de Providências. Ainda, foi apregoado o Projeto de Lei do Executivo nº 20/89 (proc. 1595/89). Do EXPEDIENTE constaram: Ofício nº 426/89, do Sr. Prefeito Municipal; Cartões da Família Guerreiro; da Família Fagundes. Após, foi registrada a presença, no Plenário, do Ver. Osvaldo Lacerda, do PDT de Caxias do Sul. Às quatorze horas e vinte e sete minutos o Sr. Presidente suspendeu os trabalhos, nos termos regimentais, sendo os mesmos reabertos, constatada a existência de “quorum”, às quatorze horas e quarenta e cinco minutos. A seguir, o Sr. Secretário procedeu à leitura de Requerimento, do Ver. Clóvis Brum, aprovado pela Casa, que solicitava o comparecimento do Prefeito Municipal para prestar esclarecimentos à Casa sobre os resultados obtidos, até a presente data, da operação de intervenção nas empresas de transportes coletivos, sobre o pagamento dos salários dos empregados nessas empresas, sobre a anunciada encampação de uma das empresas sob intervenção, bem como sobre o uso de arma de fogo, com disparos, nas dependências de uma das empresas sob intervenção. Em prosseguimento, o Sr. Presidente informou encontrar-se o Sr. Prefeito Municipal na Casa, convidando S. Exa. a fazer parte da Mesa, juntamente com os Senhores Paulo Müzell e Isaac Zilbermann, respectivamente Diretor da Cia. Carris Porto-Alegrense e Secretário Adjunto dos Transportes Coletivos, e com os Vereadores Clóvis Brum e Lauro Hagemann. Após, o Sr. Presidente concedeu a palavra ao Ver. Clóvis Brum, que discorreu sobre os motivos que ocasionaram seu Requerimento, acima referido, analisando a crise enfrentada pelo transporte coletivo de Porto Alegre e que acabou desencadeando a intervenção levada a efeito, na área, pelo Executivo Municipal. Criticou o resultado dessa intervenção, quanto ao preço tarifário e à qualidade do serviço oferecido à população. Procedeu à entrega de rol de perguntas ao Pref. Olívio Dutra, relativas à questão. Em continuidade, o Sr. Presidente concedeu a palavra ao Pref. Olívio Dutra, que teceu esclarecimentos acerca dos quesitos do Requerimento que originou sua vinda à Casa. Analisou a intervenção levada a efeito pela Administração Popular em empresas do transporte coletivo de Porto Alegre, ressaltando terem sido descobertas diversas irregularidades em várias dessas empresas. Ainda, o Sr. Prefeito Municipal respondeu questionamentos dos Vereadores Dilamar Machado, Luiz Braz, Adroaldo Correa, Edi Morelli, Nelson Castan, João Motta, Omar Ferri, Airto Ferronato, João Dib, Décio Schauren, Giovani Gregol, Artur Zanella, Heriberto Back, Elói Guimarães, Leão de Medeiros, José Valdir e Flávio Koutzii, acerca da nova intervenção decretada na Empresa Sudeste; das vistorias realizadas nos ônibus sob intervenção; da renovação das frotas de ônibus que atendem à população; dos serviços prestados pela Empresa Belém Novo; da possibilidade de revogação de permissões de uso e realização de novas licitações para o serviço do transporte coletivo; da situação da Empresa Sopal e da possibilidade de sua encampação; do apoio dado ou não pelas Bancadas da Casa à intervenção no transporte coletivo; do cálculo tarifário desse serviço; do ônus financeiro resultante da intervenção ocorrida no mesmo; do papel desta Casa na gestão pública de Porto Alegre, em especial com relação à intervenção nos transportes; da possibilidade de existência de irregularidades fiscais no pagamento dos funcionários das empresas sob intervenção; da real situação econômica e fiscal da Cia. Carris Porto-Alegrense; da criação de estrutura de pessoal, na SMT, para procedimento de auditorias nas empresas sob intervenção; do relacionamento existente entre a ATP e a SMT; da qualidade do serviço de transporte coletivo oferecido à população; dos objetivos da intervenção; do boicote praticado por funcionários de algumas empresas sob intervenção; do relatório da intervenção, distribuído pelo Executivo Municipal; do término da intervenção nos transportes coletivos e de novo reajuste para a tarifa desse serviço; da instalação de uma CPI para averiguar possíveis irregularidades na venda de fichas de vale-transporte; dos critérios adotados para a intervenção em empresas do transporte coletivo; da política do PT com relação a tarifa da Cia. Carris Porto-Alegrense; das causas estruturais dos problemas observados nos transportes coletivos; da participação da população na questão da intervenção pública nessa área; do relacionamento empresário-usuário dos transportes coletivos e da situação real, a nível jurídico, da intervenção efetuada nos transportes coletivos. Em prosseguimento, o Sr. Presidente concedeu a palavra aos Líderes de Bancada, Vereador Vieira da Cunha, que concedeu a oportunidade ao Ver. Nelson Castan, como Presidente da CUTHAB, Ver. Luiz Braz, Ver. Clóvis Brum, Ver. Lauro Hagemann e Ver. Flávio Koutzii, que, em nome de suas Bancadas, saudaram o Sr. Prefeito e teceram considerações finais acerca do assunto em debate. A seguir, o Sr. Presidente fez pronunciamento alusivo ao evento, agradeceu a presença de todos e convidou as autoridades e personalidades presentes a passarem ao Salão Nobre da Casa. Durante os trabalhos, o Sr. Presidente respondeu às seguintes Questões de Ordem: dos Vereadores Luiz Braz, Nelson Castan, José Alvarenga e Adroaldo Correa, acerca do andamento dos trabalhos e, do último, relativamente à adequação dos trabalhos ao artigo 202, parágrafos 2º e 3º do Regimento Interno; e do Ver. Artur Zanella, acerca do envio dos apanhados taquigráficos deste debate à Comissão de Inquérito desta Casa que está averiguando irregularidades na comercialização do vale-transporte na Capital. Nada mais havendo a tratar, o Sr. Presidente encerrou os trabalhos às dezoito horas e cinqüenta minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores Valdir Fraga e Lauro Hagemann, e secretariados pelos Vereadores Lauro Hagemann e Clóvis Brum. Do que eu, Lauro Hagemann, 1º Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelo Senhor Presidente e por mim.
O SR. PRESIDENTE (Valdir
Fraga): Peço
a gentileza ao Ver. Vieira da Cunha para fazer a apresentação do Vereador que
se encontra em visita a esta Câmara.
O SR. VIEIRA DA CUNHA: Com muito prazer, já estava
providenciando o nome do nosso visitante. Trata-se do Vereador Líder da Bancada
do PDT na cidade de Caxias do Sul, Ver. Osvaldo Lacerda, e mais dois
companheiros de sua assessoria.
O SR. PRESIDENTE: Recebemos com muito prazer a
visita dos companheiros.
O SR. DILAMAR MACHADO
(Questão de Ordem): Sr. Presidente, vejo montado no Plenário desta Casa o equipamento da
Objetiva Filmes, que é uma das mais importantes empresas privadas do ramo em
Porto Alegre. A minha Questão de Ordem é no sentido de que V. Exª esclareça
este Vereador e a Casa se esse equipamento está contratado pela Câmara
Municipal para este trabalho, ou se tem conhecimento de quem o contratou?
O SR. PRESIDENTE: Ora, Vereador, não vai haver
necessidade de perguntar para a assessoria: a Casa não contratou. Acena com a
cabeça o companheiro da Objetiva dizendo que foi o Executivo quem contratou.
Nós estamos esperando o Prefeito que deve chegar dentro de alguns
instantes, ou seja, às 14h30min. Por isto, vamos suspender os trabalhos para
aguardar estes três minutos que faltam para recebermos o Prefeito. Estão
suspensos os trabalhos.
(Suspendem-se os trabalhos às 14h28min.)
O SR. PRESIDENTE (às
14h46min): Srs.
Vereadores, dando continuidade aos trabalhos, estamos recebendo com muito
prazer o Prefeito Olívio Dutra e também os seus assessores Isaac Zilbermann, o
Secretário-Substituto dos Transportes, o Dr. Paulo Roberto Müzzel de Oliveira,
Diretor-Presidente da Cia. Carris Porto-Alegrense. Também, o colega Lauro faz
parte da Mesa e gostaria de convidar o proponente, Ver. Clóvis Brum, para fazer
parte da Mesa.
O Vereador requereu que fosse convidado o Sr. Prefeito Municipal Olívio
Dutra para prestar esclarecimento sobre a operação de intervenção nas empresas
de transporte coletivo em 14 de abril, aprovada por esta Casa por unanimidade.
Para satisfação nossa, está aqui o Prefeito, ao nosso lado, ao inteiro dispor
dos Vereadores.
Vou solicitar ao Ver. Lauro Hagemann que faça, por gentileza, a leitura
do Requerimento.
O SR. 1º SECRETÁRIO: (Lê o Requerimento.)
O SR. PRESIDENTE: Antes de conceder a palavra
ao Prefeito, vamos conceder a palavra ao Vereador proponente que terá dez
minutos para justificar de viva voz. Logo após, nós concederemos a palavra a
Prefeito Olívio Dutra que terá uma hora para fazer a sua exposição. Logo a
seguir, receberemos as inscrições dos Vereadores que quiserem se manifestar.
Ver. Clóvis Brum, V. Exª está com a palavra.
O SR. CLÓVIS BRUM: Exmo Sr. Prefeito
Municipal, Deputado Olívio Dutra, senhores integrantes da sua equipe de
trabalho, Presidente da Casa, Secretário, companheiros Vereadores, sempre
mantive um clima, e manterei, de um nível elevado no debate da coisa pública.
Pois não estamos movidos por interesses pessoais, senão aqueles relacionados,
eu diria, com a precariedade da prestação do serviço público através do setor
de transporte coletivo.
Esta situação, Sr. Prefeito, tornou inadiável, improrrogável este
momento, porque inadiável e improrrogável é a ação da Câmara diante de um fato
concreto, uma prestação de um serviço público que eu classificaria não visto
nas últimas duas décadas, pela precariedade do desempenho da Administração do
PT à frente da Prefeitura de Porto Alegre.
Tenho pelo Prefeito Olívio Dutra um grande respeito e uma grande
admiração, porque no passado estivemos na mesma trincheira, nos momentos mais
difíceis da repressão, e não seria agora que nos iríamos distanciar. Muito pelo
contrário, Prefeito, receba nossas críticas como uma contribuição tranqüila,
desapaixonada, pacífica, na tentativa de encontrarmos uma solução para o
problema do transporte coletivo de Porto Alegre.
Ainda lembro quando uma representação desta Casa compareceu ao gabinete
do Prefeito Olívio Dutra, tentando intermediar uma deplorável ameaça que os
empresários do setor faziam no sentido de parar com o transporte coletivo de
Porto Alegre. A Câmara procurava por todos os meios, através das suas
Lideranças, encontrar uma solução para que não parasse o transporte coletivo na
Cidade e que a crise e o confronto fossem evitados.
Na oportunidade, tivemos da palavra do Prefeito a seguinte afirmação:
os transportes coletivos não iriam parar e a qualidade desses serviços teria
que melhorar, sem cuja melhora não haveria aumento de tarifa em Porto Alegre. O
Prefeito colocava que só haveria aumento de tarifa se houvesse a melhora no
serviço de transporte coletivo. Infelizmente, meu caro Prefeito, meu bom amigo
Olívio Dutra, acho que às vezes a coisa pública foge ao nível dos conceitos
pessoais de afinidade e de admiração para cobrar de nós posições que não podem
ser nem postergadas e nem adiadas. Eis uma das razões, Prefeito, para este
momento, nesta Casa, cuja oportunidade, também acolhida pelos companheiros da
Casa, inclusive com a votação unânime, diga-se de passagem, para fins de
registro, da Bancada do PT, para que V. Exª aqui comparecesse.
Sabe V. Exª, sabem os Vereadores, sabe a Cidade que as longas filas à
espera do ônibus que só chega depois de muito tempo, superlotado, às paradas,
são um fato concreto. A demora, Sr. Prefeito, entre uma viagem e outra, às
vezes, e notadamente nos fins de semana, vai além de trinta minutos.
Quer dizer que aquela preocupação desposada por V. Exª em não dar
aumento para o transporte coletivo, para a tarifa, sem que houvesse a melhora
de qualidade, não foi podido manter-se aquela linha de coerência, eis que a
qualidade do serviço piorou e o aumento já se verificou através de Decreto de
Vossa Excelência.
Queremos, Prefeito Olívio Dutra, a verdade sobre o transporte coletivo
em Porto Alegre. Queremos a verdade sobre o que há por trás dos interesses dos
empresários e o que há, fundamentalmente, e o que está entravando para que a
Administração de V. Exª possa dar à Cidade um serviço público vital em melhores
qualidades.
Em síntese, Sr. Prefeito, feitas essas colocações, para objetar a nossa
intervenção, desejo passar às mãos de V. Exª um rolo de perguntas objetivas,
que visam esclarecer a Casa e a opinião pública as causas desse declive de
qualidade na prestação desse serviço público que é o transporte coletivo. E o
que se vai esperar, qual a esperança da Casa e da Cidade e, fundamentalmente,
do usuário do transporte coletivo em torno de uma solução para esse problema
alarmante, profundamente sério, com sérios prejuízos para a cidade, para aquele
trabalhador que usa o transporte coletivo e que está aí chegando atrasado no
seu serviço, faltando no seu serviço ou sendo censurado pelos seus patrões pela
falta de pontualidade e de prestação do serviço de transporte coletivo, através
da Administração do PT em Porto Alegre?
Agradeço, Sr. Prefeito Municipal, por ter comparecido a este convite da
Casa e tenho certeza que nem seria de outra maneira, pela índole e pela
formação parlamentar de Vossa Excelência. E, de imediato, Sr. Presidente, passo
devidamente assinado esse rol de perguntas às mãos de V. Exª, para que faça
chegar até S. Exª, o Prefeito Olívio Dutra, para que, da maneira que entender,
possa responder. Caso o Sr. Prefeito não disponha, no momento, de dados para
satisfazer as perguntas, aguardaremos a oportunidade em que S. Exª possa
complementar.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Sr.
Prefeito Olívio Dutra, por uma hora, sem apartes.
O SR. PREFEITO OLÍVIO DUTRA:
Exmo
companheiro Ver. Valdir Fraga, Presidente do Legislativo Municipal,
companheiros e companheiras, Vereadores componentes das diferentes Bancadas com
representação nesta Casa e representando, na sua pluralidade, a opinião pública
do nosso Município.
Em primeiro lugar, é uma satisfação estarmos aqui, mais uma vez, desta
feita por um convite muito especial e gentil da Casa, formulado pelo Ver.
Clóvis Brum, para que, em nome do Executivo Municipal da Frente Popular,
viéssemos trazer ao Legislativo de Porto Alegre a posição do Executivo a
respeito da questão do transporte coletivo na nossa Capital.
Certamente que não direi coisas novas aqui, estarei corroborando as
informações que o Executivo já transmitiu a esta Casa através da presença do
companheiro Antonio Hohlfeldt na Comissão de Transportes, instituída na Câmara,
e através, também, da presença de outros companheiros do Executivo responsáveis
pela aplicação da política de transporte coletivo defendida por nós da Frente
Popular. Estou aqui, portanto, para sublinhar afirmações e informações já
transmitidas a esta Casa, mas, também, mais do que isso, trago aqui a
disposição do Executivo de se colocar permanentemente disponível aos reclamos
do Legislativo da nossa Cidade no que diga respeito a um volume maior de
informações que devemos trazer a cada um dos Vereadores e ao seu conjunto, a
Câmara. Este convite, portanto, reforça uma visão que temos defendido na
Administração Popular: o transporte coletivo não é uma questão que interessa
apenas a quatorze empresas permissionárias e a empresa municipal, a Carris,
interessa ao conjunto do povo de Porto Alegre, mesmo àqueles cidadãos ou
cidadãs que não se utilizam deste serviço; interessa a todos os
porto-alegrenses saber para poderem influenciar e decidir numa política justa
do transporte coletivo para a nossa Cidade. Quero fazer, neste primeiro momento
de exposição, um relato da nossa ação no que diz respeito a esse serviço
essencial para Porto Alegre, que passo a ler. (Lê.)
“I - Um ato necessário
Completam-se hoje - 31 de maio de 1989 – cento e seis dias de
intervenção nos serviços de transporte coletivo, iniciada pela Administração
Popular no último dia 14 de fevereiro (anexos nºs 1 e 2). Pouco mais
de três meses foram suficientes para a Prefeitura confirmar suas previsões de
ocorrências irregulares praticadas pelas empresas transportadoras de
passageiros.
Regulada pelo Decreto nº 9.382, de 1º de fevereiro de 1989 (anexos nºs
3 e 4), a intervenção objetivou impedir a paralisação do serviço do transporte
coletivo, ameaçada pelos permissionários (anexo nº 4) e avaliar os custos de
operações.
Aos mesmos, a Secretaria Municipal dos Transportes (SMT) não tinha
acesso e deles não possuía registro. Ela não coordenava, de fato, os serviços
de transporte coletivo, a começar pela sua impossibilidade de calcular tarifas.
Não havia, na SMT, nenhuma estrutura adequada, e o setor responsável pela
complexa definição de valores tarifários resumia-se a uma única pessoa. São
notórias as antigas limitações da SMT, diversas vezes comprovadas pela
Administração Popular, em variados documentos e depoimentos.
Ratificando a correção do ato interventor, fatos graves foram e estão
sendo apurados pela Administração Popular junto às empresas de transporte
coletivo. Eles determinaram a prorrogação das intervenções (anexo nº 5), que
não atinge apenas as empresas São João e Nortran. Nelas também foram
encontradas irregularidades, já avaliadas pela Administração Popular. Seus
permissionários prometeram saná-las e assinaram um termo de compromisso. Serão
fiscalizados pela SMT. As outras empresas revelaram anomalias extraordinárias,
ainda não avaliadas totalmente, obrigando o Poder Público a manter a
intervenção como forma de preservar seu dever de realizar efetivo controle da
administração e execução do serviço.
Cada vez mais, a intervenção no transporte coletivo justifica-se como
um ato indispensável e necessário. A situação atual da frota é um dos exemplos
mais claros: 453 carros, do total de 1496, possuem mais de dez anos e devem ser
substituídos imediatamente (anexo nº 6). Eles localizam-se principalmente nas
empresas Sopal, com 106, ou 23,4% da frota; Trevo, com 58 carros, ou 12,8%; e
Belém Novo, onde os ônibus com idade superior a dez anos totalizam 49, ou 10,8%
(anexo nº 7).
Nos últimos cinco anos, foram adquiridos, pelos permissionários, apenas
395 carros, equivalentes a um percentual de renovação de apenas 26,4%. Nesse
ritmo, dadas as necessidades de substituição dos veículos, serão necessários
dezenove anos para a renovação total da frota (anexo nº 6). As aquisições do
qüinqüênio foram, aliás, lideradas pela Cia. Carris Porto-Alegrense, que
comprou 131 carros. Em 1988, as empresas adquiriram somente 84 carros (anexo nº
8).
Entretanto, as tarifas permaneceram elevadas até esta Administração. Ao
assumir, em 1986, o Governo anterior recebeu uma tarifa com aumento recente,
ocorrido em dezembro de 1985, com majoração de 78%. Passado o congelamento do
Plano Cruzado, de janeiro de 1987 a dezembro de 1988, a tarifa evoluiu de Cz$
1,60 para Cz$ 120,00, o que significa um aumento de 7.400%, quando a inflação
oficial ficou na casa dos 4.689% (anexo nº 9).
Ao mesmo tempo, enquanto o salário pago aos motoristas, no mesmo
período, passou de NCz$ 3,48 para NCz$ 131,16, o Piso Nacional de Salários
ascendeu de NCz$ 0,964 para NCz$ 40,42. Foi um aumento de 4.190%, contra os
3.668% concedidos aos salários da categoria (anexo nº 10). Esses números levam
à conclusão de que a tarifa aumentou 57% em termos reais, enquanto os
vencimentos dos motoristas sofreram uma redução de 11%.
Com a Administração Popular, essa tendência começa a se inverter. De
janeiro a abril deste ano, a tarifa passou de NCz$ 0,12 para NCz$ 0,17,
caracterizando um aumento de 41%, contra os 100,8% de inflação oficial (anexo
nº 10). No caso dos salários, o aumento foi de 108%, enquanto o Piso Nacional
de Salários subiu somente 58%.
Os números provam que a tarifa sofreu uma redução de 29,8%. Se fossem
mantidos os níveis de dezembro de 1988, a tarifa deveria ser de NCz$ 0,24. Seu
valor atual de NCz$ 0,17 proporciona ao usuário, portanto, um ganho de 0,07
centavos.
Como a Administração Popular está, aos poucos, comprovando, os
permissionários são responsáveis por práticas inadmissíveis. Eles uniram suas
atividades privadas com o serviço; criaram novas empresas, desviando bens e
valores dos serviços; proporcionaram a evasão de receitas; alienaram a frota e
comprometeram o patrimônio em operações de leasing e como garantia de dívidas,
comprometendo o patrimônio em operações financeiras (anexo nº 11); venderam
bens por preços aviltantes; adquiriram bens estranhos aos serviços;
desperdiçaram material; realizaram manutenção inadequada e não renovaram a
frota.
II – Os desvios do sistema
a) Sopal
Sabidamente, o Município decidiu assumir o controle da Sopal e estuda
alternativas jurídicas para tanto. Aquela empresa reuniu irregularidades
determinantes de tal decisão. Ela caracteriza, até hoje, o exemplo mais típico
da descapitalização premeditada: a empresa empobreceu, enquanto seus
permissionários enriqueceram.
A explicação é simples e comprovável: eles desviaram os recursos
destinados à manutenção e renovação da frota, aplicando-os em atividades
alheias ao transporte coletivo. Depois construíram novas empresas, transferindo
para elas os bens obtidos com os rendimentos tarifários, inclusive os equipamentos
e serviços ligados à manutenção dos ônibus (anexo 11). Para manter o transporte
operando, contraíram vultosos financiamentos (anexo 12).
Assim procedeu a Sopal que, em fevereiro de 1987, gerou a Lapos -
Comércio de Auto-Peças Ltda. Para ela foram transferidos todos os bens -
terrenos, lojas, equipamentos -, executando-se a frota. Todos os mencionados
bens haviam sido adquiridos com a acumulação dos resultados dos serviços que,
por obrigação legal, destinam-se à manutenção e aperfeiçoamento das empresas
operadoras.
b) Trevo
É semelhante a situação da Trevo. Como a Sopal, seu legado à população
- que, através da Prefeitura Municipal, permitiu-lhe administrar parte do
serviço público de transporte coletivo - constitui-se de uma frota velha (anexo
12) e de dívidas financeiras.
Fundada em agosto de 1959, em junho de 1971, a Trevo passou a explorar
o ramo de agência de viagens e transportadora turística. Os recursos
originavam-se, integralmente, dos transportes urbanos.
Em 1973, passou a explorar o serviço de táxi, sem aporte de recursos e,
em 1987, começou a trabalhar com táxi-lotação. No mesmo ano, ingressou no
comércio de autopeças, acessórios, combustíveis, reforma e montagem de ônibus.
Um ano depois, em 1988, surgiram as empresas Trevotur - Transportes e Turismo
Ltda., a Trevo Participações e a Trevo Táxi-Lotação Ltda. Tais investimentos
foram executados com recursos que deveriam ser destinados à renovação da frota
(anexo 15).
Com a cisão das empresas, os permissionários apossaram-se dos ativos
das empresas de transporte coletivo. Tais bens foram transferidos para outras
sociedades das quais, como se pode comprovar, eles participam. Deixaram às
empresas de transporte coletivo apenas altos encargos financeiros.
Revela-se com obviedade o desvio, naquela empresa, dos recursos
legalmente destinados à manutenção e melhoria dos serviços. Na sede da Trevo,
por exemplo, os permissionários mantinham uma indústria de lapidação, gerida
com o auxílio dos recursos tarifários. Claramente, os lucros por ela gerados, bem
como os rendimentos das demais empresas, nunca contribuíram para a redução das
tarifas. Pelo contrário, as referidas atividades contribuíam para elevar os
custos do transporte coletivo. Assim, o supermercado Trevolândia - de
propriedade dos permissionários e localizado ao lado da Trevo - utilizava como
depósito uma das garagens da empresa e servia-se das mesmas instalações
telefônicas.
As irregularidades detectadas na Trevo são, porém, ainda mais graves.
Lá foram localizados documentos não-contabilizados, que caracterizam o
‘caixa-2’, método utilizado para fugir às obrigações tributárias. Parte deles
foi retirada de um fosso existente nos fundos da empresa. Todos já foram
entregues à Receita Federal, que tomará as providências cabíveis (anexo nº 13).
A prática do ‘caixa-2’ estendia-se também às relações trabalhistas,
sendo comum os pagamentos ‘por fora’, conhecidos como ‘PF’. Através desse
mecanismo, eram remunerados vários funcionários, quase sempre trabalhadores
aposentados. Eles desempenhavam, geralmente, atividades na portaria,
almoxarifado e lavagem, entre outras.
Mesmo funcionários ligados à administração eram, freqüentemente,
remunerados dessa forma, como o caso de Darci Maestri (anexo nº 14). Ele não
consta da relação dos empregados, incluindo-se entre o rol dos trabalhadores
excluídos dos benefícios sociais.
Por fim, a sistemática ‘caixa-2’, adotada pelos permissionários da
Trevo parece abranger, também, o controle do número de passageiros
transportados pela empresa. Documentos encontrados pelos interventores
apresentam fortes indícios de que os mencionados números foram adulterados.
Suspeita-se mesmo que o arrombamento da sala ocupada pelos interventores,
ocorrido no fim de semana de 13 e 14 de maio, foi motivado pela busca dos
referidos documentos, que estão sendo entregues à Receita Federal. A invasão
teve sua ocorrência registrada na polícia.
Cálculos realizados aleatoriamente pela equipe de interventores sugerem
que, por exemplo, nos meses de agosto a novembro de 1988, a empresa reduziu
contabilmente o número de passageiros transportados. No mês de agosto daquele
ano, a redução teria sido de 203.058 passageiros, ou 10,4% do total real
transportado, que foi de 1.952.754.
Ao valor atual da tarifa, essa mutilação dos números representa a soma
de NCz$ 34.519,86 (anexo nº 15). Tal dedução pode ser feita a partir das
planilhas encontradas pelos interventores, com os movimentos diário e mensal da
empresa, comparadas às informações fornecidas à SMT (anexo nº 16). Números
anotados nas próprias planilhas elucidam a provável sonegação de informações.
Ao que tudo indica, as reduções efetuadas nos citados documentos inspiravam-se
em percentuais aleatórios, que balizavam a supressão de determinadas viagens
realizadas.
Respectivamente, nos meses de setembro, outubro e novembro, o número de
passageiros teria sido reduzido em 201.948, 195.417 e 188.041. A título de
exemplo, a redução efetuada no mês de novembro corresponde a uma receita de
NCz$ 31.966,97 (anexo nº 18).
Confirmadas essas hipóteses, além de viabilizar o desvio da receita, a
redução do número de passageiros terá refletido diretamente no cálculo
tarifário, determinando sua elevação.
Simultaneamente à provável prática de reduzir contabilmente o número de
passageiros transportados, a Trevo parece ter operado, no ano de 1988, com
elevada perda de horários, deixando de realizar centenas de viagens (anexo nº
17).
c) Sudeste
Nessa empresa há igualmente indícios evidentes de fraudes, que já estão
sendo apuradas pela autoridade policial. Elas se evidenciaram no último mês de
abril, quando a receita prevista para a empresa caiu em cerca de 30%,
relativamente a março.
Investigações contábeis conduziram, por exclusão, ao exame das roletas,
quando foram constatados furos nos parafusos que afixam a saia protetora do mecanismo
de registro.Reforçando a proteção de tal mecanismo, os interventores já haviam
determinado a soldagem dos referidos parafusos, providência tomada no início da
intervenção. Os furos, porém, foram realizados através dos parafusos,
constatação que determinou o envio de duas roletas à Fundação de Ciência e
Tecnologia (Cientec).
Análises preliminares ratificaram os indícios como reveladores de
adulteração, fato registrado na Delegacia de Defraudações. Dia 27 à noite -
depois de investigar infrutiferamente durante cinco dias - os policiais foram
às garagens, constatando visual e tecnicamente os indícios de adulteração, com
a presença de técnicos do Instituto de Criminalística. Foram apreendidas
dezessete roletas.
As investigações, que têm o prazo legal de sessenta dias para
ocorrerem, determinaram à Prefeitura Municipal o adiamento da reassunção dos
permissionários, prevista para o dia 1º de junho.
O trabalho policial poderá comprovar que o número de passageiros e a
receita da empresa sofreram reduções contábeis.
Essa receita - de 100 a 150 mil cruzados por dia -, no caso, não terá
sido contabilizada. Quanto ao número de passageiros, como se sabe, influencia o
cálculo da tarifa. Os resultados das investigações poderão obrigar a revisão
das estatísticas, a partir de dados reais. No último dia 29 de maio, por
exemplo, um ônibus da linha Pinheiro, trafegando sob controle, transportou
1.887 passageiros. O mesmo trajeto vinha rendendo, em média, 1.100 passageiros
diários.
d) Outras empresas
Também a empresa São João realizou a cisão de seus bens, transferindo
para a Transportes Abeca Ltda. dois caminhões basculantes e duas
retroescavadeiras. Adquiridos em consórcio, os caminhões tiveram suas
alienações fiduciárias substituídas pela alienação de dois ônibus da frota.
Como várias vezes já referiu a Administração Popular, as receitas geradas por
tais bens - comprados com os recursos tarifários - não foram contabilizadas.
Vender bens abaixo do preço de mercado foi outra irregularidade
cometida pelos permissionários. Em março deste ano, um dos empregados da
empresa dela comprou uma caminhonete Toyota por NCz$ 1.000,00; em dezembro de
1988, o ônibus placas AR3743 foi vendido por NCz$ 4.000,00. São apenas dois
exemplos, das dezesseis transações efetuadas.
Na VTC, como nas demais, confundiam-se as atividades do serviço de
transporte coletivo e os empreendimentos particulares dos permissionários -
sempre apoiados, parcial ou totalmente, na arrecadação tarifária. Lá, os
permissionários sediavam de fato a empresa Transportes Cavalhada Ltda,
abastecendo e realizando a manutenção de veículos estranhos ao transporte de
passageiros. É o que se pode deduzir, pela negativa dos permissionários em
fornecer os registros contábeis, comerciais e fiscais.
Além desses livros, os permissionários esconderam, durante várias
semanas, seis ônibus da frota, posteriormente localizados pelos interventores.
Continuam desaparecidos cinco automóveis de propriedade da VTC. Identicamente,
aliás, à Sopal, onde também desapareceram dois automóveis e permanece sumido o
disco fonte do Centro de Processamento de Dados, o que causou sérios problemas
administrativos.
Esconder os documentos, aliás, foi uma das formas de boicote à
intervenção adotadas genericamente pelos permissionários. A ela somaram-se atos
de vandalismo fartamente noticiados, como a quebra de vidros e pára-brisas,
perfurações de pneus e ameaças de todo o tipo promovidas por empregados ligados
aos permissionários.
III - As mudanças começam
Vencendo gradativamente os obstáculos impostos, a Administração Popular, através da SMT, vai revelando-se capaz de planejar, controlar e fiscalizar o sistema de transporte coletivo.
Nas empresas São João e Nortran, onde cessou a intervenção, os
permissionários comprometeram-se, mediante um termo de reassunção, a efetuar o
saneamento financeiro e patrimonial do serviço. Deverão, inclusive, cobrir o
passivo e restabelecer com a empresa os vínculos dos bens indispensáveis, tudo
até o final deste ano. Deverão também repor a frota depreciada, conforme um
programa aprovado pela SMT, sujeitarem-se aos controles do Poder Público e às
auditorias por ele determinadas e colocarão lacres em todas as catracas, por
elas responsabilizando-se.
Reconhecerão os atos e acordos realizados pelos interventores no
tocante a seus empregados, dando ao Município plena, geral e irrevogável
quitação de suas decisões. Os permissionários retornarão à administração dos
serviços orientados por uma contabilidade padronizada, introduzida pelos
técnicos da SMT, apoiando-se em um serviço de estatística, instituído pela
mesma Secretaria, juntamente com a Companhia de Processamento de Dados do
Município de Porto Alegre (PROCEMPA).
Em ambas as empresas, foram corrigidas distorções salariais,
adequando-se os salários à qualificação das funções. Na Nortran, os empregados
das oficinas receberam aumento de 20%. Todos os trabalhadores - na São João e
na Nortran - passaram a receber o pagamento das horas extras. Na última
empresa, foi eliminada a cobrança dos juros de 30% aplicados sobre os vales
concedidos aos empregados. Para estes, as férias vinham sendo pagas de forma
irregular, sem o acréscimo de um terço determinado pela legislação em vigor.
Essa prática também foi eliminada. Foi instituído o pagamento semanal.
As dez linhas atendidas pelos ônibus da Nortran passaram a atender seis
novos horários, dirigidos ao Jardim Leopoldina. Atualmente, a seus carros
atendem 912 tabelas contra as 888 atendidas anteriormente pelos
permissionários. Todo o serviço está sendo acompanhado por fiscais, inclusive
nos terminais, constituindo outra prática nova, introduzida pela intervenção.
Novos horários também foram estabelecidos pela VTC, que destinou cinco novas
tabelas para a Vila Nova, ampliando-as nos fins de semana.
Começa a ser adotada naquela empresa a manutenção preventiva, com o
exame de quatorze carros diários. Já vigora um controle da vida útil dos pneus
e um sistema de controle de custos, englobando peças, diesel, lubrificantes e
mão-de-obra destinada a cada veículo. Foram adquiridas peças para o
almoxarifado, onde os interventores haviam encontrado somente materiais
destinados aos caminhões da Transportes Cavalhada, quatro motores, e estão
sendo montados dois ônibus cujos chassis tinham sido destinados também para
caminhões.
Estão sendo pagas as horas extras, adicionais noturnos e folgas dos
funcionários, que costumavam receber tais remunerações parcialmente e pelo
sistema ‘PF’. Eles passaram a receber tíquetes de vales-refeição e têm à
disposição, agora, um consultório médico, atendido por um profissional. E praticamente
foram eliminadas as tabelas com intervalos de quatro horas, que caracterizavam
a ‘dupla pegada’. As relações empresa-trabalhador estão sendo medidas por uma
comissão de funcionários, por eles organizada.
Em percentual menor - cerca de 50% -, foram reduzidas as ‘duplas
pegadas’ na Sudeste, onde muitos funcionários estavam com férias vencidas e em
desvio de função. Essas anomalias foram corrigidas pelos interventores, que
anteciparam as datas de pagamento, atendendo reivindicações dos empregados, passando-as
de vinte e cinco para quinze e de dez para trinta.
Uma nova sala de tráfego foi montada na empresa, que passou a praticar
a manutenção preventiva dos ônibus, medida desprezada por todos os
permissionários. A Sudeste manteve noventa e seis carros rodando, em média, no
mês de maio, para um ideal de noventa e oito, nunca atingido pelos
permissionários. Estão sendo substituídas as caixas de câmbio automáticas,
inadequadas para os ônibus articulados, e foi abandonada a utilização de pneus
recapados no rodado dianteiro dos carros.
A frota está sendo rigorosamente vistoriada. Esses cuidados mereciam
pouca atenção dos permissionários da Sudeste. Lá os interventores encontraram
um cartão de vistoria em branco, assinado por um funcionário municipal
encarregado da fiscalização. O fato está sendo apurado através de inquérito
administrativo.
Na Sopal, apesar das más condições da frota, estão rodando diariamente
cerca de duzentos e trinta carros, sendo que o número ideal é de duzentos e
quarenta e cinco.
Como nas demais empresas cujos serviços estão sob intervenção, na Sopal
também os funcionários passaram a receber o pagamento pelas horas extras e
estão sendo reduzidas as ‘duplas pegadas’. Está, igualmente, sendo permitido o
gozo das férias, um direito vetado pelos permissionários, que estimulavam os
trabalhadores a vendê-las integralmente. Neste caso, eram pagas pelo sistema
‘PF’, também adotado para a remuneração de muitos funcionários. Na área
administrativa, 60% deles eram remunerados ‘por fora’.
A Trevo está operando com cento e quarenta e cinco veículos, em média,
sendo necessários cento e cinqüenta e dois para atender a demanda. Os ônibus
estão submetidos a um exame diferenciado, com a instituição de um novo sistema
de recepção dos carros e acurada checagem dos defeitos apresentados durante as
viagens. As lonas dos freios, por exemplo, estão sendo utilizadas
adequadamente, usando-se os tipos indicados para os vários estágios de desgaste
do sistema, o que permite uma economia de 40%. Os equipamentos para a recapagem
de pneus existentes na empresa e praticamente abandonados pelos
permissionários, passaram a ser acionados amplamente.
Como este informe direto já mencionou, era praxe na Trevo o pagamento
‘PF’, agora extinto. Estão sendo pagas horas extras, adicionais e ocorreram
equiparações salariais beneficiando, por exemplo, mecânicos que recebiam
salários de aprendizes. Estão sendo construídos banheiros novos para homens e
mulheres, em substituição às precaríssimas instalações destinadas aos dois
sexos.
O quadro de fiscais foi ampliado, mudando-se também o regime de
trabalho. Anteriormente, eles trabalhavam das nove às dezenove horas, período
que coincide com o menor movimento de passageiros. Atualmente, a fiscalização
inicia às cinco horas, atendendo os principais horários.”
Srs. Vereadores, este é um relato sucinto da ação do Executivo, dos seus resultados mais imediatos no sistema de transporte coletivo da nossa Cidade. O Poder Executivo Municipal tem sido transparente na posição que vem defendendo e que busca executar. O transporte coletivo é um serviço público, portanto, o Poder Público tem o dever de ter sobre este serviço o controle, quer administrando-o diretamente, quer fiscalizando-o rigidamente. Nós intervimos neste sistema muito por provocação dos próprios permissionários, portanto, intervimos preventivamente para assegurar os direitos da maioria da população da nossa Cidade, que se serve do transporte coletivo, ameaçada por um locaute dos empresários no dia 16 de fevereiro.
Não pedimos para intervir naquele momento, mas achamos que a intervenção só pode ser suspensa, efetivamente, quando o controle público tiver sido efetivado sobre as minúcias, sobre os detalhes do sistema de transporte coletivo na nossa Cidade. A Administração Popular entende que o serviço de transporte coletivo deve ser um serviço público, administrado diretamente pelo Poder Público, num percentual majoritário. Achamos que, no mínimo, 50% mais um desse serviço deve ter a administração pública direta, uma administração pública eficiente, transparente, permeada pela Administração Popular, e é nesse rumo que direcionamos a nossa política.
Achamos que esse serviço precisa ser qualificado, a população merece que o transporte coletivo tenha mais qualidade, mas não temos e nem vendemos a ilusão de que essa melhor qualidade possa ser dada pela nossa simples vontade, pelo nosso discurso. São décadas de uma relação equivocada entre permissionários e o Poder Público que não se restabelece em apenas alguns meses, mas temos a convicção de que, graças à intervenção, é possível, hoje, a opinião pública da nossa Cidade, o povo de Porto Alegre, saber minúcias e detalhes sobre o custo do serviço, sobre a forma da sua execução, sobre a qualidade, que não saberia por obra e graça dos permissionários. Tendo conhecimento dessa realidade, por dentro, a administração pública, o povo da Cidade e esta Casa poderemos modificar o transporte coletivo, como estamos fazendo, e gostaríamos de fazê-lo num ritmo mais veloz, no interesse da maioria da população da nossa Cidade. Esse é o nosso objetivo, essa é a nossa política. Fico, aqui, nesta exposição inicial, pois tenho todo o interesse em ouvir os companheiros Vereadores, depois procurarei contemplar as suas inquietações no final desta Sessão. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Os Srs. Vereadores agora
podem formular as perguntas que, após, o Prefeito Olívio Dutra irá
respondê-las.
O SR. NELSON CASTAN (Questão
de Ordem): Eu
sugiro à Mesa que o Prefeito tenha oportunidade de responder a cada Vereador
após a explanação de cada um dos Vereadores. Acho que assim tornaremos o debate
mais vivo, mais dinâmico e preencheremos os objetivos a que esta Casa se
propôs, através da iniciativa do Ver. Clóvis Brum.
O SR. PRESIDENTE: Nós colocamos esta questão
ao Sr. Prefeito e ele achou melhor responder ao final para todos. Vamos
respeitar a posição do Sr. Prefeito.
Com a palavra, o Ver. Dilamar Machado, primeiro orador inscrito.
O SR. DILAMAR MACHADO: A primeira questão diz
respeito ao ato de reintervenção na empresa Sudeste. Pelo Diário Oficial, esta
nova intervenção foi decretada na segunda-feira, dia 29 último.
Tenho em mãos o documento juridicamente acabado e perfeito, com as
assinaturas do Sr. Secretário Municipal dos Transportes, Ver. Antonio
Hohlfeldt, do advogado da SMT, a assinatura do interventor na empresa Sudeste,
do Dr. José Alberto Guerreiro, o Presidente da ATP e sócio majoritário da
empresa Sudeste. Este documento traz a situação em que a empresa é devolvida
formalmente aos permissionários, com data de hoje.
A questão é: qual o documento que prevalece neste momento? Se a entrega
formal, por escrito ao permissionário ou se o ato de intervenção decretado dois
dias antes.
Através de pronunciamento público do Sr. Secretário dos Transportes, a
nova intervenção nessa empresa se deve particularmente à descoberta de fraudes
no sistema de roletas, que estaria defasando a arrecadação da empresa.
O Sr.
Prefeito Olívio Dutra confirma que, no dia 26 de abril, o Presidente da ATP,
José Alberto Guerreiro, acompanhado de um empresário local não ligado ao setor
de transporte coletivo, compareceu ao gabinete do Prefeito Olívio Dutra para
denunciar que a sua empresa, sob intervenção, estava sendo lesada pelo processo
de catraca nas roletas - ou a serra, como nos ensina o Ver. João Dib -, sendo
desviada a arrecadação diária através das roletas? O Sr. Prefeito confirma ter
recebido essa informação do próprio Diretor da Sudeste e Presidente da ATP,
José Alberto Guerreiro?
Segundo: o Sr. Prefeito confirma declaração pública do Sr. Secretário Municipal dos Transportes, Ver. Antonio Hohlfeldt, de que precisou dispor de seis mil cruzados novos para pagar a um informante, há poucos dias, a denúncia de que havia fraude na roleta? Se esse pagamento foi efetuado, a que título, quem pagou e quais as providências que o Prefeito tomou com relação ao que este Vereador considera uma clara e inequívoca tentativa de suborno a uma autoridade pública?
Terceiro: o Prefeito afirmou há pouco que está sendo rigorosamente efetuado o serviço de vistoria nos ônibus sob intervenção. Se o Prefeito tem conhecimento do auto de infração nº 24235, da SMT, assinado pelo fiscal João Carlos Vargas no dia 28 de abril de 1989, em que foi autuado o ônibus 113, da empresa Sudeste, sob intervenção, por trafegar com selo de vistoria vencido? No dia 12 de abril de 1989, o ônibus 119, da empresa Sudeste, foi autuado pelo fiscal José Teixeira Santos, por trafegar com selo de vistoria vencido. No dia 18 de maio de 1989, o ônibus 238, da empresa Sudeste, foi autuado por trafegar com selo de vistoria vencido. Mesmo auto de infração no dia 12 de maio de 1989, ônibus 175, da Sudeste. O ônibus 115, da empresa Sudeste, autuado no dia 16 de maio de 1989, por trafegar com o selo de vistoria vencido. Fiscal da SMT, nesse caso, Jorge Luiz Pereira, o número da matrícula e os autos de infração estão aqui.
Por derradeiro, Sr. Prefeito, V. Exª informa que a frota de Porto Alegre não vem sendo renovada há algum tempo. Se V. Exª tem conhecimento de que em 1986, 1987 e 1988 foram acrescidos à frota trezentos e cinqüenta e três novos ônibus das empresas sob intervenção, quarenta e um da Sopal, trinta e um da Trevo, dezessete da VTC, dezenove da Sudeste?
E se V. Exª é favorável a um reestudo, por parte desta Casa e do próprio Executivo com relação ao problema de renovação e vida útil da frota de ônibus de Porto Alegre? Sabidamente, vivemos num país de economia pobre e se não seria esse o momento - quando V. Exª e sua Administração frontalmente atacam o problema do transporte coletivo, que indiscutivelmente é importante para a vida da Cidade - de reexaminar a questão da vida útil da nossa frota, partindo para um processo de fiscalização e vistoria com relação ao estado do veículo, já que é normal, dentro da iniciativa privada, que o empresário que tem ônibus que sabe que no seu décimo ano de vida útil deverá ser retirado do setor de transporte coletivo, por certo, a partir do sétimo, oitavo ano diminui a própria manutenção do veículo, porque dele não se fará uso dali a dois anos? Se não seria o momento de examinarmos em conjunto, Legislativo e Executivo, a possibilidade de retirarmos o prazo de vida útil e encontrarmos mecanismos de manutenção melhor dos ônibus, tendo em vista a própria economia do País e a dificuldade extrema que a própria intervenção reconhece, porque no período de intervenção nenhum ônibus novo foi acrescentado à frota de transporte coletivo? Eram estas as questões.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Ver. Luiz Braz, V. Exª está
com a palavra.
O SR. LUIZ BRAZ: Sr. Presidente, Sr. Prefeito
Municipal, Prof. Olívio Dutra, na sua exposição inicial, eu acredito que não
tenha ouvido nenhuma referência à empresa Belém Novo e na última vez em que
esteve aqui o Secretário Municipal dos Transportes, o nosso amigo Antonio
Hohlfeldt, ele dizia que a empresa Belém Novo não teria condições de continuar.
Ela teria que paralisar os seus serviços. Instado sobre como ficaria aquela
população, o Secretário afirmava que teria ou que ser cassada aquela concessão,
ou o proprietário teria que devolver aquela concessão para o Município, e até
dizia que um modo de suprir a lacuna que ficaria com esse serviço seria colocar
a Carris fazendo linhas que porventura viessem a deixar de ser feitas pela
empresa Belém Novo. Como eu acredito não ter ouvido de parte de V. Exª
referência a essa paralisação, pergunto a V. Exª se os problemas havidos na
empresa Belém Novo foram solucionados, foram resolvidos, ou se o Poder Público
Municipal tem novas soluções para este problema.
A segunda pergunta se refere às licitações: se as denúncias que V. Exª
traz - e não é só de hoje que V. Exª faz essas denúncias - são tão graves,
envolvendo empresários e empresas do transporte coletivo em Porto Alegre, eu
perguntaria o porquê da não-cassação das permissões e abertura de novas
licitações. Seria por que não existem novos empresários dispostos a entrar na
disputa de licitações aqui em Porto Alegre? A Prefeitura teria procurado novos
empresários e não teria encontrado novos empresários?
A terceira pergunta é com referência à Sopal, uma pergunta que já foi
colocada para o Secretário dos Transportes e que não foi respondida. A Sopal,
como V. Exª mesmo disse, tem uma frota muito velha e tem dívidas muito grandes,
inclusive a dívida da Sopal supera o próprio patrimônio; eu pergunto a V. Exª:
quando a Prefeitura fala da encampação da Sopal, significa que essa encampação
vai trazer prejuízos para o Município, por que o Município simplesmente não
cessa essa permissão e abre uma nova licitação, evitando que esses prejuízos
sejam arcados pelo Município? São só essas três perguntas.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: A palavra com o Ver.
Adroaldo Corrêa.
O SR. ADROALDO CORRÊA: Sr. Prefeito Municipal de Porto Alegre, Sr. Olívio Dutra, a
pergunta que faria é referente ao desenrolar das diversas fases da intervenção
da Administração Municipal nas seis empresas de transporte coletivo de Porto
Alegre, se percebeu algum posicionamento das Bancadas desta Câmara ou coletivo
da Casa que permitisse identificar uma postura de - respondendo ao interesse da
comunidade e, principalmente, ao interesse dos passageiros - sustentação do
gesto da Administração Municipal, à exceção, obviamente, da Bancada governista,
se isso foi vislumbrado, em algum momento, em Bancadas diferenciadas das
Bancadas governistas.
E faço esta pergunta com objetividade e assim sucintamente porque, às
vésperas do dia 16 de fevereiro, fomos suscitados da tribuna desta Câmara por
diversos Vereadores integrantes deste Plenário a ter, sim, uma posição de
enfrentamento daquilo que viria ser o locaute dos empresários do transporte
coletivo, anunciado sob pena de haver um enfrentamento em relação à tarifa.
Suscitados, pessoalmente, respondíamos que estudávamos uma fórmula de não
deixar a população de Porto Alegre sem o transporte e que, seguramente, o apoio
que era anunciado, uma resposta que nós considerávamos em conjunto e não apenas
a Bancada do nosso Partido ao desacato que deveria se realizar com a intenção
de locaute ao próprio serviço municipal, ao próprio Executivo Municipal. Esse
apoio se verificou a posteriori? Era esta a pergunta que
gostaríamos de fazer.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Edi
Morelli.
O SR. EDI MORELLI: A pergunta que eu transfiro
a S. Exª, o Sr. Prefeito Olívio Dutra, é uma pergunta que me é feita
constantemente, ainda sobre a empresa Belém Novo. Por que as linhas servidas
pela empresa Belém Novo, de péssimo serviço, por que a Prefeitura não toma uma
atitude para amenizar o sofrimento, principalmente do povo da Restinga? Falo na
Restinga porque ali moro, ontem mesmo pegou fogo num ônibus da Belém Novo.
Então, a pergunta é essa: por que a Prefeitura não toma uma atitude para
amenizar, para melhorar os serviços prestados pela Belém Novo nas suas diversas
linhas?
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Ver. Nelson Castan.
O SR. NELSON CASTAN: Sr. Presidente, Sr. Prefeito
Municipal, em primeiro lugar, gostaria de deixar consignada a minha
manifestação de desconformidade com o método que está sendo empregado nesta
Sessão muito importante para nós, Vereadores, muito importante para a cidade de
Porto Alegre. No meu entendimento, se fosse permitida a imediata resposta ou o
imediato esclarecimento por parte do Sr. Prefeito, esse debate teria condições
de engrandecer muito essa Casa, engrandecer muito a nossa Cidade.
O SR. PRESIDENTE: Vereador, gostaria de
informar à V. Exª que nós perguntamos ao Prefeito e ele achou por bem responder
assim.
O SR. NELSON CASTAN: Sim, acato a decisão, só que
deixo consignada a minha desconformidade.
Sr. Prefeito, tem várias questões que nos preocupam a respeito do
transporte e muito coisa deve ser esclarecida a nós e à comunidade
porto-alegrense. Uma das intenções manifestas da Administração Popular ao fazer
a intervenção nas empresas foi colher informações com o objetivo de chegar num
cálculo tarifário realista. Entendo esse propósito elogiável, compartilho com o
propósito, agora, não compreendo se esse método que está sendo empregado de
levantamento direto, individualizado dos custos permitirá à Administração
Popular chegar a alguma conclusão sobre a efetiva estrutura de custo do
transporte coletivo. Explico o porquê. As empresas têm suas peculiaridades,
mesmo fazendo um exercício de abstração das irregularidades, muitas denunciadas
por V. Exª são corretas, são preocupantes, mesmo deixando isto de lado, entendo
que o levantamento de custos que está sendo feito não irá permitir que se
chegue a uma realidade tarifária. O cálculo tarifário obedece, de um lado, à quilometragem
percorrida, ao número de passageiros transportados, a parâmetros, a
coeficientes de custos que nós sabemos quais são, e esses itens não serão
avaliados pela observação direta nas empresas, são parâmetros técnicos que os
fabricantes de peças e insumos têm muito mais condições para informar a
Administração Popular a realidade destes parâmetros. Se algum pecado houver na
informação, será um pecado que irá favorecer a população, porque todos os
fabricantes de chassis, de carrocerias, de lonas, de freios, pneus, fazem
questão de mostrar a performance de seus produtos, sempre exagerando a
qualidade deles.
No meu entendimento, embora seja uma preocupação correta, não me parece que este método de levantamento direto, por exemplo, consumo de combustíveis, de lonas de freios, de recapagem de pneus, certamente a Administração Popular teria o resultado mais confiável, uma média destes coeficientes se fosse diretamente às características técnicas destes produtos e não pesquisando numa miríade de situações de empresas melhores administradas, outras não tão bem administradas, que certamente os resultados serão diferenciados.
Outro aspecto a que V. Exª se referiu no seu pronunciamento é a suposta
prática, dita por V. Exª, de que os permissionários, sistematicamente,
sonegavam o número de passageiros para a SMT e que, portanto, esse número a
menor teria reflexo na tarifa. Tenho certeza de que V. Exª conhece que Porto
Alegre tem uma lei que determina o censo de passageiros, e que há uma polêmica
antiga que o famoso IPK dito pelos permissionários está sempre abaixo do IPK
utilizado pela Secretaria Municipal dos Transportes. Ainda me preocupam, Sr.
Prefeito, os possíveis ônus financeiros ao erário municipal resultantes dessas
medidas da intervenção. Eu acho que isso aí é a preocupação número um do
contribuinte porto-alegrense, isso eu coloco como um ônus provável, uma vez que
certamente será resultado de decisão judicial.
Mas eu entendo que a responsabilidade do administrador público é prever
todos esses aspectos, para que hoje, amanhã ou num futuro um pouco mais
distante, a nossa Cidade não venha a ser onerada por despesas judiciais de
indenização sob várias formas. O caso das roletas, denunciado na Sudeste, é
mais um exemplo disso. Se formos avaliar, a responsabilidade está nas mãos dos
interventores. Então, se houve uma fuga de receita, é uma dúvida que tem a
comunidade porto-alegrense de quem será a responsabilidade financeira por isso.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Ver. João Motta.
O SR. JOÃO MOTTA: Inicialmente, gostaria de
saudar o Sr. Prefeito Municipal e os demais integrantes da Mesa. Gostaria de
fazer uma breve reflexão e levantar no final uma indagação ao Prefeito. O
regime político que nós vivemos no Brasil, ele reproduz um conjunto de relações,
comportamentos, procedimentos que são todos eles informados por um modo de
conceber a economia e os chamados negócios do Estado. Todas as grandes relações
na economia e nos negócios do Estado reproduzem a composição de interesse
público da população. Entretanto, quando não mediados e equilibrados, esses
interesses levam à conseqüente absorção ou submissão de um interesse público e
privado por outro, ou vice-versa.
Um exemplo é o caso da exploração da Amazônia. Parece-me que reproduzem
uma relação econômica cuja lógica é a mais absoluta rapinagem e o
locupletamento a qualquer custo por parte dos grupos que lá intervém e que lá
defendem seus interesses. Vou dar outro exemplo que diz respeito mais ao
Estado. O Estado hoje no Brasil, enquanto gerenciador e autor de investimento,
também quando intervém na economia, como hoje intervém na economia, como hoje
intervêm na área da siderúrgica, como os critérios com que intervém nos levam a
fatos como hoje estamos constando na Cia. Siderúrgica de Volta Redonda, que vive
sérios problemas financeiros.
A discussão, no meu entendimento, sobre transportes, diz respeito a um
tipo de relação que envolve, sim, o interesse econômico e o interesse do
Estado. Ou seja, o interesse de grupos com a chamada coisa pública. No meu entendimento,
a discussão deve ser mediada ou estabelecida mediante critérios. Diria que sob
o ponto de vista dos transportes coletivos de Porto Alegre, a relação entre o
interesse público, o interesse do Município de Porto Alegre e o interesse
privado - ATP - parece que manifesta a mais evidente, nua e crua relação de
submissão, particularmente nesses últimos quatro anos, entre o interesse
privado da ATP e os interesses públicos do Município e que determinou, como
conseqüência, as seguintes situações: todas as grandes decisões sobre tarifas,
fiscalização, conservação da frota, reinvestimento, passam ao largo da
discussão, que seria da coisa pública no que diz respeito a essas questões.
Prevaleceu, sempre, portanto, o interesse imediato do chamado “interesse dos
grupos” ou dos interesses privados, no caso específico da ATP. Parece que isso,
num relato feito de forma sintética, é evidente.
Sob o ponto de vista do critério mais geral, é evidente, também pelo
relato, pelas informações, que os critérios usados pela ATP - interesse privado
- ao estabelecer a relação com a chamada coisa pública têm a mesma lógica da
rapinagem e do locupletamento a qualquer custo hoje utilizada na Amazônia pelos
grupos que são responsáveis por aquela vasta área. Não me surpreende que haja
isso aqui, no Município de Porto Alegre, pois estamos num país onde existe tudo
isso na Amazônia, num país em que o Estado faz o que está fazendo, hoje, na
Cia. Siderúrgica de Volta Redonda. Diferente seria, Sr. Prefeito e Srs.
Vereadores, na Europa, onde, certamente, o responsável por tudo isso seria
punido e estaria hoje respondendo pena, preso, detido numa cadeia. Entretanto,
nós sabemos que a impunidade é o chamado grande ilícito na sociedade brasileira
e ainda não tem o mesmo tratamento do chamado pequeno ilícito.
A questão que eu gostaria de colocar ao Sr. Prefeito é a seguinte:
diante desta situação, como o Executivo vê, hoje, a responsabilidade da Câmara
Municipal, do Poder Legislativo Municipal de Porto Alegre, enquanto também um
poder que deva se preocupar com a chamada gestão do interesse público? Em
segundo lugar, se o Executivo vê algum papel político diante desta situação ao
Poder Legislativo Municipal, qual seria? Ou, ao contrário, se o Executivo tem
outra visão, como se desdobra esta relação?
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Omar
Ferri.
O SR. OMAR FERRI: Sr. Presidente da Câmara, Exmo
Sr. Prefeito Municipal, demais assessores que o acompanham, Srs. Vereadores, a
Bancada do Partido Socialista Brasileiro, representada por este Vereador,
entende de formular a V. Exª três perguntas apenas. A primeira, Sr. Prefeito,
tem uma razão de ser muito abrangente e diz respeito não só à comunidade
porto-alegrense, mas, também, a toda Previdência Social deste País, ao sistema
de Previdência Social que, hoje, está praticamente falido. Ocorre que V. Exª
afirmou, no decorrer de suas informações, que uma quantidade enorme de
salários, isto é, de remuneração, eram procedidos por “PF”, não sei se esse
termo é jurídico ou administrativo, mas se entende que sendo “PF” é pagamento
por fora, o que implica numa sonegação, especialmente, à Previdência Social, e
isto, na minha opinião, é crime previsto em lei, é crime de apropriação
indébita. Portanto, no momento em que V. Exª assinala e proclama a existência
de pagamento por fora, me parece que ocorre uma sonegação. Vamos, então, à
primeira pergunta: o sistema previdenciário brasileiro ou a fiscalização do
INPS foi comunicada pelo órgão interventor ou pela Secretaria Municipal dos Transportes
da existência dessa anomalia fiscal?
Segunda pergunta: tem se falado muito da intervenção realizada pela
Prefeitura Municipal nas diversas empresas do transporte coletivo de Porto
Alegre, e eu gostaria que, quando chegar o momento de V. Exª se pronunciar
novamente, talvez em dois ou três minutos, dissesse ao Plenário qual a situação
real da Cia. Carris, porque é ela a empresa de transporte coletivo público da
nossa Cidade.
Em terceiro lugar, Sr. Prefeito, partindo de que um dos princípios básicos
da administração pública é a moralidade e que quando o Poder Público Municipal
permite a particulares a exploração de atividade pública, a prestação de
serviços à comunidade de uma atividade pública, se parte do princípio de que a
Prefeitura, estabelecendo requisitos para a prestação desses serviços públicos,
se pressupõe que esses requisitos, eles sejam cumpridos pelas entidades
permissionárias. Mas V. Exª afirmou que foram unidas atividades privadas com a
pública, que houve alienações que comprometeram o patrimônio, que em diversas
empresas os dirigentes, os proprietários, os administradores enriqueceram e
quantas empresas empobreceram. Portanto, Sr. Prefeito, se deve existir
moralidade, probidade, decência e lisura nos serviços concedidos, voltando à pergunta
que eu fiz, por que o Executivo Municipal não revoga e não assume em caráter
definitivo os serviços do transporte público no Município de Porto Alegre? Eu
agradeço a Vossa Excelência.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Airto
Ferronato.
O SR. AIRTO FERRONATO: Sr. Prefeito, inicialmente a
nossa saudação. Eu devo fazer um breve preliminar até em função da preocupação
do nobre Vereador Adroaldo Corrêa, quando indaga a V. Exª se houve pelas
Bancadas da Casa uma sustentação do gesto da Administração Municipal neste
particular. Eu devo deixar claro, até porque já disse que tomei por norma nesta
Casa não me meter onde desconheço o tema sem uma profunda avaliação, inclusive
abalizado.
Com referência ao tema específico, V. Exª afirma em síntese, num dado
momento, está clara a exposição que faz, que não se encontrou nenhuma estrutura
adequada de acompanhamento das ações e das informações prestadas pelas
permissionárias na SMT, não existiria, portanto, sistema contábil e de auditoria
na estrutura administrativa desta Secretaria. Noutro momento, V. Exª diz com
correção ao meu entender que o Poder Público tem o dever de manter rigoroso
controle sob esse serviço essencial. Daí então, eu vejo como uma necessidade
imediata e inadiável a formação de uma estrutura de pessoal na SMT com poderes
de proceder sistematicamente à auditoria contábil com vistas a acompanhar e a
fiscalizar aquelas permissionárias, porque, indiscutivelmente, sem tal
estrutura, eu acredito que essa desinformação na SMT se fará sentir brevemente,
a não ser que se proceda a intervenções freqüentes. Faço então uma pergunta: é
pensamento da atual Administração promover concurso público com vista a se
criar um serviço de auditoria contábil para a SMT? Obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Ver. João Dib, V. Exª está com a palavra.
O SR. JOÃO DIB: Sr. Presidente, Sr.
Prefeito, sou um homem extremamente simples e as minhas colocações serão
simples. Eu fui o primeiro a fazer cálculo de tarifa para o transporte coletivo
nesta Cidade. Leio no informe direto que V. Exª leu da tribuna, Sr. Prefeito,
que não havia na SMT equipe capaz de calcular tarifas. Muito bem, não vou
discutir isso. Leio também que os desvios do sistema foram detectados. Desde
que há uma equipe de ilustres e brilhantes técnicos, por que tendo sido
detectados os desvios do sistema houve necessidade de reajuste tarifário e está
se anunciando o segundo reajuste tarifário? Acho até que não são nem tão
ilustres nem tão técnicos, Sr. Prefeito, porque dois e dois são quatro, e se
eles lhe fizeram ler daquela tribuna que em dezenove anos a frota seria
renovada, eles não sabem que dois e dois são quatro, porque ela nunca seria
renovada na proporção que está aí, porque aos dezenove anos já teriam que
renovar 50% de novo. Então ela nunca seria renovada.
Mas, Sr. Prefeito, há duas semanas atrás, pouco mais, irritado, me
pronunciei de uma forma um tanto quanto violenta em razão de ter ouvido V. Exª
dando uma entrevista numa das rádios da Cidade. Em seguida, o Vice-Prefeito
Tarso Genro, segundo me informou, veio em seu nome, me pediu desculpas e eu
aceitei tranqüilamente, porque é assim que deve ser, eu sei o que é um
pronunciamento. Mas agora, na tribuna, V. Exª disse e eu quero entender o que
representa isso: “São décadas de relacionamento equivocado entre empresários e
SMT”. Fui duas vezes Secretário de Transportes nessas décadas e uma vez
Prefeito. Eu gostaria de saber a que relacionamento equivocado V. Exª alude.
Obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Décio
Schauren.
O SR. DÉCIO SCHAUREN: Cumprimento o Sr. Prefeito e
os demais integrantes da Mesa. Pelo relato que o Sr. Prefeito fez, fica claro
que os empresários se utilizaram daquela filosofia do Gerson de sempre levar
vantagem em tudo. O que eu estranho é a pergunta feita por um Vereador sobre os
itens que integram os custos, como quilometragem percorrida, IPK, pneus, peças,
inclusive dizendo que os fabricantes em geral exageram na qualidade dos seus
produtos, querendo dizer com isso que alheios a todas essas fraudes relatadas,
aqui os custos são estabelecidos por outros dados, querendo dizer que, na
verdade, essas fraudes não alterariam a planilha de custo. Eu queria saber
quais são, efetivamente, os prejuízos causados em nível de tarifa por essas
fraudes, por esses desvios de dinheiro proveniente da tarifa. Em segundo lugar,
há insinuações de que o transporte teria piorado por causa da intervenção,
então, eu queria perguntar quais são as empresas das quais a SMT tem recebido
maiores reclamações, se das que estão sob intervenção, ou se das que não estão
sob intervenção.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver.
Giovani Gregol.
O SR. GIOVANI GREGOL: Sr. Presidente Valdir Fraga,
Sr. Prefeito Olívio Dutra, demais autoridades presentes, colegas Vereadores,
senhoras e senhores presentes, tudo que envolve essa questão das intervenções,
de forma mais geral da problemática do transporte coletivo de Porto Alegre -
essa é uma problemática, sem dúvida, polêmica e complexa - já vem há bastante
tempo. Desde que a Administração Popular assumiu a Prefeitura, essa polêmica se
acirrou e as posições divergentes e, até, antagônicas, se acirraram.
Em primeiro lugar, é preciso dizer que as intervenções que foram feitas
- pelo menos no momento em que foram feitas -, elas não foram desejadas pela
Administração, pelo contrário, a Administração sempre mostrou a vontade de
negociar, de chegar a um acordo, acordo esse que não ferisse nenhum princípio
da nossa Administração e dos Partidos que a compõem e que não ferisse os
interesses maiores da coletividade, da Cidade, do povo de Porto Alegre, mas
recebemos em troca sempre uma atitude intransigente. Desta forma, a legítima
representante dos empresários do transporte coletivo da cidade de Porto Alegre
publicou nos jornais que se a tarifa não aumentasse até um determinado valor
desejado por elas e que elas arbitraram inclusive, elas simplesmente parariam
de transportar, parariam de cumprir a sua obrigação com a cidade de Porto
Alegre. A Administração foi obrigada, para preservar os interesses da
população, e não poderia ser diferente, inclusive por lei ela deve fazer isso,
ela foi obrigada a fazer as intervenções e inclusive a prorrogar.
Aqui nesta Casa, Sr. Prefeito, vários Vereadores têm dito que as
intervenções têm ido muito longe, eu também penso que as intervenções foram
longe, até muito longe, só que eu não acho que elas foram muito longe, acho que
elas têm que ir adiante. Eu penso que o relato que V. Exª trouxe aqui,
oficialmente, a esta Casa hoje comprova, reafirma não só as nossas piores
expectativas como ainda vai além, ou seja, aquilo que a população de Porto
Alegre afirmava, porque sentia na sua carne ao utilizar o transporte; aquilo
que as entidades do movimento popular da Cidade diziam, aquilo que nós dizíamos
durante a campanha, aquilo tudo está justamente, precisamente, e tecnicamente,
inclusive, se confirmando e pior do que isso.
Inclusive a intervenção, ela está cumprindo um dos seus principais
objetivos expressos que é justamente fazer a verdade vir à tona. Sempre foi
dito que entre as razões, entre os seus objetivos, as intervenções tinham que
proporcionar o cálculo real da tarifa que há muito tempo não se podia fazer na
Cidade, até porque as empresas licitantes não entregavam os dados, se negavam a
dar os dados que elas eram por lei obrigadas a dar à Secretaria Municipal dos
Transportes de forma que a Secretaria pudesse calcular a tarifa real, e também
tinha o objetivo de levantar a situação real dessas empresas e estão aí os
desvios de todos os tipos, as ilegalidades, as arbitrariedades, o dinheiro
público que foi desviado para outras empresas, para outros setores, para outros
investimentos.
Inclusive, concluo, Sr. Presidente, uma empresa, recentemente foi
noticiado, é um dado a mais de tantos outros, tinha uma lapidação de pedras
preciosas e de fato os empresários, enquanto lapidavam as pedras semipreciosas,
dilapidavam o patrimônio público e dilapidavam a frota que não foi renovada.
Gostaria que V. Exª nos falasse alguma coisa, porque no seu relato, há pouco,
não ressaltou esse ponto. Gostaria que nos falasse do boicote que está havendo
dentro dessas empresas hoje, por uma minoria, é verdade, de prepostos, de
funcionários que a serviço dos seus patrões estão, devem ter os seus motivos,
que não são os da coletividade, estão tentando e em certos casos, até
específicos, conseguindo impedir a melhoria dos transportes.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: O Ver. Artur Zanella está
com a palavra.
O SR. ARTUR ZANELLA: Sr. Presidente, Sr.
Prefeito, vou fazer algumas perguntas com certo oficialismo, porque nós temos
aqui nesta Casa uma Comissão Parlamentar de Inquérito da qual sou o relator e
evidentemente não se pode fazer uma pergunta já com juízo de valor, porque
seria incompatível com este caso. Mas coloquei algumas perguntas aqui para que
tivesse condições de um relato mais tranqüilo. E a seqüência não é uma
seqüência lógica, Sr. Presidente e Sr. Prefeito, tendo em vista que as
perguntas vão aparecendo em função, até, das exposições. Mas o Sr. Prefeito
afirmou que a empresa Trevo, em 1987, começou um trabalho de táxi-lotação e, em
1988, com a Trevotur. Está escrito isto, inclusive, no relatório. Eu pergunto
se não há um equívoco, porque estas atividades - ao menos quando eu fui
Secretário de Transportes, em 1983 e 1984 - já existiam. Inclusive, a linha de
táxi-lotação do Menino Deus é bem anterior a isto.
Eu escutei diversas vezes o Sr. Prefeito Municipal dizer que havia uma
colocação inadequada das relações entre os empresários e a SMT e que os
empresários comandariam os cálculos de tarifa. Como em agosto de 1983 a agosto
de 1984 eu fui Secretário de Transportes e o cálculo de tarifa era feito por
uma pessoa da minha mais absoluta confiança, que, hoje, é do Governo do
Prefeito Olívio Dutra, é diretor da Carris, hoje, e era quem fazia os cálculos
de 1983 e 1984, eu queria saber se a desconfiança de V. Exª se refere a esse
período e, no caso, a esse servidor, que foi o meu diretor-geral na Secretaria
e que hoje é diretor da Carris - não é o seu Presidente, é um dos diretores.
A outra pergunta ao Sr. Prefeito: é que tenho lido em diversas
entrevistas que haverá encampação da Sopal. Li em diversos locais. Eu tenho um
Pedido de Informações aqui, assinada a resposta por V. Exª, dizendo que não vai
haver encampação ilegalmente. As encampações não podem ser feitas porque os
serviços já foram encampados em 1953. Eu gostaria de saber de V. Exª se a Sopal
ou outras empresas serão encampadas ou não.
O Sr. Secretário dos Transportes, num depoimento, aqui e na rádio,
também disse que a Belém Novo está falida. Como ela atende toda a Zona Sul,
principalmente Belém Novo, Restinga, eu pergunto por que a Belém Novo, se está
falida, não recebeu intervenção e se vai entrar lá a Carris, como é uma
aspiração das pessoas que lá estão?
Perguntaria, também, ao Sr. Prefeito, até peço escusas que esta linha
de perguntas seja feita agora para uma resposta mais adiante, mas,
infelizmente, foi a decisão do Presidente da Casa: os títulos protestados
durante a intervenção, eles serão pagos pela Prefeitura ou não? Estes títulos
estão aparecendo, inclusive, nos avisos do Jornal do Comércio.
Quero saber, também, se as empresas sob intervenção e a Carris, se
estão em dia com o IAPAS, ISSQN e com a COPA. Menos a Carris, é evidente,
porque não faz parte mais do COPA.
Também li, Sr. Prefeito, que a receita da Sopal, mensal, cerca de 85%
da receita tinha sido utilizada para pagamento de pessoal. Quero saber se o
número é real. Se não for real, qual o número afinal? E se entende V. Exª que
com os 15% restantes é possível pagar combustível, peças, renovação de frota,
pneus, etc.
Também gostaria de saber se está havendo previsão de reserva de
recursos para renovação de frota, segundo percentual da tarifa, a tarifa da
planilha tem uma parte para renovação de frota, se está sendo definido ou não.
Outra pergunta, Sr. Prefeito, a Prefeitura assinou contrato com a SMTC
de São Paulo, este contrato, depois de um certo tempo, foi entregue à Comissão
Parlamentar de Inquérito, mas ele não foi aprovado pela Câmara Municipal de
Porto Alegre, como determina a Lei Orgânica, que diz que todo o contrato
assinado pela Prefeitura precisa de autorização legislativa. Quero saber se
este contrato já foi assinado, e pelo que sei, pago, ao menos uma parte, se vai
ser encaminhado à Câmara.
As duas perguntas finais são filosóficas, porque quando houve o caso
que gerou a Comissão Parlamentar de Inquérito, foi em função de um inquérito
aberto pela Delegacia de Defraudações. E tenho diversas entrevistas com pessoas
que, de uma forma ou de outra, foram ouvidas no caso. Quero deixar bem claro a
V. Exª que não tenho a menor dúvida quanto à lisura daqueles Secretários ou de
pessoas que foram indiciadas naquele inquérito. Acho que se houve algum ato não
muito legal ou muito técnico, se deve ao fato de querer acertar. Então, não
vejo, sinceramente, nenhum arbítrio, mas naquela oportunidade diversas pessoas
diziam que era inquérito arranjado, que o delegado não estava sendo correto,
etc. Eu vejo que agora é o mesmo delegado que está fazendo o inquérito das
roletas. Então eu quero saber de V. Exª se o delegado esse, no entender de V.
Exª, é uma pessoa isenta e que faz os seus inquéritos de forma aberta, sem
querer prejudicar ninguém.
Finalmente, Sr. Prefeito, em função da leitura que V. Exª fez e pelos
documentos que eu tenho visto, eu notei que V. Exª considera que foi aumentada
a oferta dos ônibus, que a Prefeitura é dona das frotas, que a administração
dos ônibus está bem. Então, eu pergunto a V. Exª: se a Prefeitura administra
melhor, se tem condições tarifárias adequadas, por que a Prefeitura não assume
de vez esse transporte, por que vai devolver aos empresários se é tão boa assim
a administração? E já anuncia um novo aumento tarifário. Eram essas as
perguntas.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Ver. Heriberto Back.
O SR. HERIBERTO BACK: Sr. Prefeito, Sr.
Presidente, Srs. Vereadores, acho que eu não tinha uma informação correta do
que acontece nas empresas de transporte coletivo, apesar de ter uma vivência de
muitos anos, como advogado do Sindicato dos Rodoviários. Me parece, até, que o
conjunto da Casa não tinha este conhecimento aprofundado, ao menos nos últimos
tempos. Pelo relato que aparece hoje e foi a síntese do que apareceu nos
últimos meses, aqui nesta Casa foi instalada uma Comissão de Inquérito por
causa de umas fichinhas, que seria o grande escândalo, o grande crime. Hoje
está visto de forma clara, e o Ver. Dib o diz assim e toda a Casa reconhece,
que nenhum desses Secretários cometeu crime, rigorosamente. Mas a Comissão de
Inquérito se instalou sob este ângulo e com grande espalhafato, quando, na
verdade, as grandes questões, os grandes crimes, as grandes fraudes, estas
constatadas de forma cabal, estão neste Relatório. As empresas, efetivamente,
desviaram - e isso, sim, é fraude, crime - dinheiro público, que é o dinheiro
da tarifa, da renovação de frota, para os seus negócios particulares. Isto está
constatado. A própria Comissão de Inquérito trouxe aqui os títulos protestados
da Sopal, vultosos. E, assim, as outras empresas. Então, eu imagino, pelo que
está acontecendo hoje, que, efetivamente, não se tinha um domínio do que
aconteceu ao transporte coletivo. Se suspeitava, mas ninguém tinha o domínio. E
eu imagino que a coisa seja por aí. Se perdeu, nos últimos anos, o controle
sobre o sistema de transporte. Houve um período, que eu não tinha conhecimento,
em que se criou o sistema de transporte. Houve uma época em que o sistema de
transporte em Porto Alegre esteve em grande alta. E, hoje, nós estamos à beira
do colapso.
Eu tinha uma idéia de que a situação não fosse tão grave. Confesso,
aqui, a minha ignorância. Tanto que eu tinha uma posição, externei nesta Casa,
nas reuniões comunitárias com o Prefeito, que nós tínhamos que transformar esta
intervenção num imediato controle da empresa privada e sair dela. Mas, de
repente, entramos num buraco, quer dizer, numa Sopal, numa Trevo, com todos
estes problemas e vamos ter que encarar a situação como o Brizola encarou o problema
do que era antes a CRT, quer dizer, não tem que indenizar essa gente, eles
estão devendo. Acho que é necessário tomarmos os grandes atos que o Rio Grande
já fez, e o Brizola fez isso, e depois os outros governos indenizaram e por
isso a CEEE está nessa situação.
É essa a situação, realmente. Dizem os Vereadores que estamos indo
muito longe, mas não é isso, o negócio é que o buraco é muito fundo e não
podemos sair dessa intervenção, temos que encarar essa briga e retomar esse
dinheiro que foi desviado, e isso é dinheiro público, é dinheiro do povo.
Então, não podemos sair rapidamente da intervenção. A minha pergunta: com todas
estas dificuldades, qual é a perspectiva, como vamos sair dessa situação?
Algumas empresas vão sendo saneadas, como a São João, a Nortran, e tive
conhecimento disso com o advogado do sindicato, que eram empresas mais sérias,
e o Ver. Dib, que conhece, me faz o aceno de que é real, são empresários
sérios, fizeram alguns desvios, mas estão na situação de retomar as suas
empresas, mas tem outras que não dá para entregar.
Como é que vamos sair disso? Se é possível, apesar de toda a sabotagem
que houve, e isso dificultou o controle da situação pela Prefeitura, instituir
o sistema de caixa único, que temos empregado aqui, instituir o pagamento por
quilômetro rodado, que me parece uma forma efetiva de controlar a empresa, se
há possibilidade da instituição desse sistema, em que prazos, em que
perspectivas, e o que está sendo feito nesse sentido?
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Ver. Elói Guimarães.
O SR. ELÓI GUIMARÃES: Sr. Prefeito, Sr. Presidente
e Srs. Vereadores, antes de apresentarmos algumas questões, gostaríamos de
fazer uma breve colocação. Nós entendemos que o transporte em Porto Alegre
passou por um profundo envolvimento emocional, todos nós estamos lembrados que
a questão da tarifa andou pela Casa. Aqui nesta Casa, certa feita,
apresentaram-se cinco propostas de tarifas. No ano passado e nos anos
anteriores, a nosso juízo com muita competência, o PT fez da tarifa e da
questão do transporte, por assim dizer, o “cavalo de batalha”. Dizia-se nesta
Cidade, e ela tem bastante memória, que a tarifa era um roubo, que se
estatizaria o transporte coletivo em Porto Alegre, que se baixaria a tarifa.
Então houve todo uma animosidade e toda uma discussão em torno do transporte
coletivo em Porto Alegre. Devemos dizer, e com alguma experiência, por termos
passado pela Secretaria Municipal de Transporte, que efetivamente o transporte
deixa a desejar em termos de eficiência aqui e na maioria das cidades
brasileiras, exceção talvez Curitiba.
Bem, então, dito isso, Sr. Presidente e Sr. Prefeito, nós gostaríamos
de dizer quantas afirmações que se têm feito, entrevistas e discussões, de que
a Secretaria foi desaparelhada, que a Secretaria não tinha estudos, cálculos,
etc. e tal. Eu devo dizer que durante pelo menos a última Administração, todos
os cálculos tarifários, todas as análises tarifárias tiveram a observância da
lei que estabeleceu a metodologia de cálculo, que foi um projeto de lei
discutido e transformado em lei, que nada mais faz do que estabelecer aqueles
parâmetros do Geipot estabelecido para o Brasil. Então, todos os cálculos
feitos durante o nosso período e, de resto, da Administração passada, não só
existem os cálculos tarifários à disposição da Secretaria, como todos os
cálculos tarifários estão arquivados na Secretaria Municipal dos Transportes e
têm a observância da Lei, ou seja, a Lei aprovada pela Casa, que estabelece a
metodologia de cálculo. Bem, dizer-se, que a Secretaria não dispunha de
pessoas, funcionários qualificados para fazer os cálculos, nem precisaria citar
nomes, mas a Secretaria tinha uma área, um setor de economia, onde se procediam
os cálculos feitos por pessoas altamente qualificadas e que inclusive essas
pessoas...
(Aparte anti-regimental.)
O SR. ELÓI GUIMARÃES: Não, há várias pessoas,
inclusive o atual funcionário da Secretaria à época participava da área de
economia. Feitas estas colocações, nós gostaríamos de dizer, em primeiro lugar:
existem todos os cálculos feitos durante a Administração passada, são objeto de
um estudo arquivado lá na Secretaria, observando a metodologia de cálculo onde
se estabelecem todos os parâmetros, todos os parâmetros estão estabelecidos na
metodologia de cálculo. Haverá de se dizer, por exemplo, um pneu roda mais ou
menos, é outra questão, é outra ordem de discussão. O consumo de diesel é maior
ou menor, são outras questões que se podem discutir. Agora, o fato é que a
metodologia de cálculo está assentada numa planilha nacional, observada
nacionalmente, e que foi objeto de cálculos procedidos na Secretaria.
Dito isto, Sr. Prefeito, Sr. Presidente, gostaríamos aqui de fazer
objetivamente algumas perguntas. A primeira pergunta seria o critério da
intervenção. Qual foi o critério adotado da intervenção? Teria sido um critério
de deficiência de oferta de transporte em Porto Alegre? Se foi esse critério,
por que não se fez a intervenção na Belém? O cálculo da tarifa, o último
cálculo tarifário observou a metodologia de cálculo - não é uma pergunta, é uma
indagação - ou foi um preço político, uma tarifa de emergência o último cálculo
tarifário?
A Carris também foi objeto de ampla discussão na Legislatura passada. A
Carris tem o IPK maior do que o sistema convencional. Lembro que nós fizemos,
em 1987, o censo de passageiros e encontramos, no sistema convencional, o IPK
de 3,6 e para a Carris 4. Recebíamos, à época, críticas de que deveríamos
baixar o preço da tarifa da Carris - no que é lógico - porque o IPK era maior.
Nós sustentávamos, naquela oportunidade, que achávamos que sendo a Carris uma
empresa pública, nós estaríamos com a tarifa diferençada para a Carris fazendo
um investimento na empresa pública. Então, vem a pergunta: qual a política do
PT no caso? Vai baixar a tarifa da Carris, porque efetivamente a Carris tem o
IPK maior? Ou vai ser mantida essa tarifa? Neste caso, se contradiz a afirmação
passada que era objeto de debate. Então, vai-se manter o preço da tarifa da
Carris no mesmo preço do sistema convencional ou não?
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Leão
de Medeiros.
O SR. LEÃO DE MEDEIROS: Sr. Prefeito Municipal, Sr.
Presidente da Casa, vou ser breve. Evidentemente que o tema transporte coletivo
é complexo e, como tal, é polêmico e enseja esclarecimentos e entendimentos
como os que hoje são trazidos aqui por V. Exª e que podem suscitar novas
dúvidas e merecer até reparos. Na verdade, eu não tenho uma questão a formular
a V. Exª, mas quero extrair, neste momento, um sentimento e uma constatação.
Retirei da explanação de V. Exª elucidações que recolho para reflexões e
futuros posicionamentos. Mas, o mais importante de tudo isso, Sr. Prefeito
Municipal, é que devo registrar a satisfação, a grandeza no procedimento e no
gesto de V. Exª em aceder ao convite desta Casa, em aqui comparecer e se
submeter a esse intenso e extenso questionamento que aqui se trava. V. Exª, no
meu entender e no meu sentir, com seu gesto, engrandece ainda mais a sua
postura pessoal e, a meu juízo, dignifica o cargo de Prefeito Municipal. Por
tudo isso, com toda independência, Sr. Prefeito, eu felicito Vossa Excelência.
Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. José
Valdir.
O SR. JOSÉ VALDIR: Sr. Prefeito, Srs. Vereadores,
Sr. Presidente, parece-me que a questão do transporte coletivo não pode ser
tratada como uma questão conjuntural. Parece-me que tem causas profundas,
históricas, causas estruturais, sob pena de a gente ficar atribuindo à
intervenção problemas que são históricos no transporte coletivo, sob pena da
gente ficar nesta Casa ou em outros locais discutindo fichinhas, que são
fichinhas, nada mais do que fichinhas e deixando de discutir as grandes
questões centrais.
Como líder comunitário, tenho vivenciado o problema da falta de
segurança nos ônibus, do roubo de horários. Há muito tempo temos tarifas acima
da inflação, sempre acima, agora estão abaixo. De muito tempo temos enfrentado
o problema dos transportes coletivos, que é “mais velho que o caminho da capela”.
É um problema antigo. Por isso, a minha questão primeira é: quais as causas
estruturais do problema do transporte coletivo?
A segunda questão é que em Porto Alegre a população usuária sempre tem
sido tratada pelos empresários como verdadeiros prisioneiros. Nós vemos, pelo
relatório, a prática de descapitalização das empresas, carreando recursos das
empresas que deveriam ser aplicados no sistema de transporte para iniciativas
particulares e, depois, os famosos pedidos de financiamentos e usando isso como
argumento para aumentar as tarifas, e a população, sempre prisioneira, pouco
podendo influir na questão do transporte coletivo. Aí vem a segunda questão: o
que está sendo feito para que a população possa ter uma nova forma de
participação nessa questão de fiscalização dos transportes coletivos?
A terceira questão que eu coloco, que, na verdade, é um bloco de
questões, é a respeito desta prática de cisão de empresas, de descapitalização
que temos assistido pelos jornais, embora muitos achem normal que o dono de uma
padaria monte uma metalúrgica dentro da empresa. Para mim, montar uma usina de
lapidação de pedras preciosas dentro de uma empresa de ônibus é, no mínimo,
ridículo, a este ponto. Então, gostaria de saber sobre a prática de
descapitalização das empresas. Primeiro: esta prática é uma prática legítima,
justa - a mim me parece que isso é um crime - e é legal? Segundo: quais são as
conseqüências dessa prática de descapitalização para os usuários e para os
atuais problemas que nós vivenciamos no transporte coletivo de Porto Alegre?
Terceiro: quais as práticas que as empresas têm adotado? Porque este problema é
antigo, o Ver. Zanella lembrou que inclusive é anterior. Quais as práticas que
os empresários, homens dignos e honrados, têm adotado para compensar este
desvio de dinheiro do sistema, para mascarar isto, para conseguir botar a
frota, mesmo precariamente, em funcionamento, já que desviam sempre - isto vem
desde 1986, pelos relatórios - recursos do sistema para outras empresas?
O quarto bloco de questões é que este enfrentamento com os empresários
tem desdobramento em nível jurídico e freqüentemente os empresários alegam que
estão tendo vitórias neste campo. Eu gostaria, Sr. Prefeito, de ter um relato
sucinto de como está este enfrentamento em nível jurídico. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Flávio
Koutzii, último orador inscrito.
O SR. FLÁVIO KOUTZII: Sr. Presidente, Sr.
Prefeito, pelo fato de ser a última inscrição, já permite estabelecer uma preliminar
para minha pergunta, constatar o caráter que as intervenções tiveram neste
debate e neste processo de interrogar a questão dos transportes e ouvir a
opinião daqueles que pela Prefeitura administram o que é claramente hoje o
problema da Cidade. E o conflito de múltiplas dimensões me chamou muito a
atenção. E o relatório reafirmou aquilo que os jornais, a tribuna desta Câmara,
por entrevistas do Sr. Prefeito, têm dito: que os empresários do transporte não
renovam a frota, não reinvestem, permitem ou não controlam devidamente o
processo de fraude recentemente identificado, aumentam espetacularmente o
endividamento das suas empresas, utilizam Caixa 2, pagam por fora, têm relações
muito duras com os trabalhadores e, por fim, do lado do Poder Público, pelo
menos entendo, na última gestão se assistiu a um esvaziamento da Secretaria
Municipal dos Transportes e a cessão do vale-transporte para o setor privado
que, além de reivindicar e isso é próprio do capitalismo a eficácia, nunca
trabalhou sem observar a preocupação da maximização de seus lucros. Não conheço
esse fenômeno no capitalismo. Digamos: relativizar os lucros para ser,
socialmente, bonzinho.
Ora, esse elenco de questões nesse relatório é hoje infinitamente mais
consolidado por fatos concretos, precisos, matemáticos, cifras, número de
ônibus, etc. O que eu senti - excetuando algumas exceções é evidente - é que os
Vereadores, colegas, parece que passaram um pouco pelo lado do informe central
que aqui foi dado, limitando-se na maioria dos casos a buscar pequenos
esclarecimentos setoriais de forma que o substrato político e social, que é a
razão de ser deste conflito, se dependesse do que foi dito eu não saberia bem o
que penso, mas como eu não preciso que digam para entender e deduzir de um
certo tipo de posicionamento, eu vejo que não há de parte de colegas desta Casa
uma aproximação das questões centrais.
Então, a minha pergunta, além deste registro que me preocupa muito
daquilo que, acho que muito bem o Ver. Motta colocou, a relação entre o público
e o privado, o que pensa a Prefeitura depois de praticamente cinco meses de
trabalho nessa área e reconhecendo, sim, que ela não conhecia todos os dados e
ela os adquiriu ao longo do processo da intervenção e, hoje, ela não tem
opiniões ideológicas, ela tem análises precisas sobre toda uma série de
questões e com isso se guia para fazer a sua política. Qual é a opinião de quem
teve de labutar nessa esfera concreta, que absorveu completamente os esforços
das secretarias relacionadas com esse trabalho de que o julgamento da
necessidade de fiscalizar e de eventualmente intervir passasse a ser última
instância desta Casa e como que esta Casa faria para instrumentar uma avaliação
que nos custou sangue, suor e lágrimas nesses cinco meses e que, pelo que ouvi
até aqui, não é devidamente considerada na medida em que, eu observo, talvez o
julgamento do Prefeito e de outros seja diferente - vou concluir, Sr.
Presidente -, se transforma permanentemente numa desconsideração dos dados, num
debate meramente político e, portanto, interrogo: de que maneira os interesses
radicais da população de Porto Alegre seriam contemplados se na hora de decidir
nós não nos decidíssemos por enfrentar esses problemas e nos decidíssemos
apenas pela questão política, que não está ligada diretamente ao problema? É
isso.
(Revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Srs. Vereadores, nós tivemos
aqui dezoito Vereadores inscritos. Sr. Prefeito, V. Exª está com a palavra.
O SR. OLÍVIO DUTRA: Sr. Presidente, Srª e Srs.
Vereadores, foi realmente uma oportunidade enriquecedora para nós do Executivo
e penso que também para os companheiros do Legislativo Municipal, oportunidade
essa propiciada pela iniciativa do Ver. Clóvis Brum, de convidar o Executivo, o
Prefeito, para esse debate no Plenário da Câmara. Toda a vez que se nos
oportunizar situação semelhante, nós estaremos prontos a ter este confronto, ou
até mesmo a confluência de idéias ou de propostas. Vejo que há uma preocupação
que perpassou todas as intervenções dos ilustres Vereadores, em salvaguardar o
interesse da maioria da população. Não é outra, também, a preocupação do
Executivo. O Poder Executivo Municipal, na verdade, não está enfrentando os
empresários para terçar armas ou posições ideológicas com este setor, legítimo,
da nossa Cidade. Nós estamos intervindo no sistema de transporte coletivo da
nossa Cidade no interesse da maioria da população. E com esta maioria nós
estamos imbricados, como certamente estão os companheiros Vereadores, num
constante contato, num constante entrelaçamento, numa constante consulta, numa
constante aferição da nossa caminhada.
Nós gostaríamos que, efetivamente, num único lance já tivéssemos
colocado o transporte coletivo da Cidade na situação de ouro e fio, como merece
a população. Todos nós gostaríamos disso. O certo é que de nossa parte não há
esforço, nem desperdício no sentido de que com a participação popular e no
menor tempo possível, o transporte coletivo tenha efetivo controle público e
satisfaça as condições de qualidade exigidas pela população na sua prestação de
serviço. São, e aqui já faço uma inflexão, numa inquietação colocada pelo
ilustre Ver. João Dib, que foi Prefeito desta Cidade e Secretário Municipal dos
Transportes, também o Ver. Artur Zanella e o Ver. Elói Guimarães foram
Executivo neste Município e responsáveis pela área de transporte. Quero dizer
que, efetivamente, do nosso ponto de vista, com todo respeito às pessoas que
passaram pela Administração Pública e que atuaram na Secretaria Municipal dos
Transportes com a responsabilidade de dirigi-la, nossa posição não é pessoal,
mas é política. A Secretaria Municipal dos Transportes, como a recebemos, não
tinha condição nenhuma para enfrentar, taco a taco, o empresariado em nível de
estrutura material, de recursos humanos. Um simples levantamento de dados
estatístico ou de elementos de insumo componentes da planilha de custos desses
serviços. Não tinha sequer um maquinário mínimo indispensável, enquanto que os
empresários, a ATP, tinham uma estrutura que todos nós sabemos montada com o
dinheiro do vale-transporte, portanto, com o dinheiro da própria população.
E as administrações anteriores, no que pese todo o esforço de
secretários que passaram pela SMT, não tinham recursos materiais e humanos
suficientes para fazer esse enfrentamento. Nós encontramos a SMT inclusive sem
máquina de calcular, sem máquina de datilografia elétrica. Portanto, a nossa
opinião de que havia uma posição equivocada no sentido de que os empresários
poderiam eles se capacitarem, eles levantarem dados, nós simplesmente faríamos
algumas fiscalizações, levantamos alguns, mas nunca com condições firmes de
terçar com eles, sobre a origem, a legitimidade dos dados que nos traziam,
então nós achamos que isto é uma posição equivocada, que perpassou várias
administrações e se acentuou fundamentalmente na última.
A Secretaria Municipal dos Transportes estava efetivamente esvaziada
quando a Administração Popular assumiu o Governo.
O SR. JOÃO DIB (Questão de
Ordem): Sr.
Prefeito eu não poderia deixar passar, eu fui responsável pela Prefeitura até
31 de dezembro de 1985, antes disso fui responsável pelo transporte coletivo de
1956 a 1965. Em 1977 a 1978, fui Secretário outra vez. Eu quero dizer a V. Exª
que o próprio vale-transporte que a Prefeitura de Porto Alegre utilizou antes
das demais cidades brasileiras, utilizou para os seus funcionários, era emitido
pela Prefeitura e não pelos empresários. Portanto, eu não posso, de forma
nenhuma, porque cuidei toda a vida de um patrimônio, que era um nome, aceitar
que houvesse relacionamento equivocado entre empresa e Secretaria dos
Transportes ao tempo em que eu podia de uma forma ou de outra decidir, não vou
aceitar de forma nenhuma, Sr. Prefeito, porque eu tenho só uma coisa para
zelar, um nome que eu construí ao longo de trinta e quatro anos de serviço e
que não vou permitir que seja colocado em dúvida.
E digo a V. Exª que em dezembro de 1985 a Secretaria Municipal de
Transportes tinha máquinas, tinha servidores, tinha gente competente. E não vou
concordar de novo, eu disse a V. Exª que não renovaria a frota em dezenove
anos, porque ao término de dezenove anos teria mil, cento e quarenta veículo
para renovar, portanto, quem faz conta deste jeito pode não saber que dois e
dois são quatro, mas eu sei, e ao longo de trinta e quatro anos construí um nome,
Sr. Prefeito, não vou permitir que ele seja usado de qualquer maneira.
Portanto, essa relação equivocada não aconteceu comigo, não aconteceu com o
Ver. Zanella, que foi meu Secretário de Transporte, tinha toda a Cia. de
Processamento de Dados, tinha todo o interesse de fazer e tinha as tarifas
abaixo da inflação.
O SR. PRESIDENTE: Prefeito Olívio Dutra, me
permite, como Presidente da Casa, fica difícil como mediador, mas se V. Exª me
permite uma sugestão, que V. Exª pudesse responder Vereador por Vereador.
O SR. OLÍVIO DUTRA: Acho oportuna a observação
do Presidente e vamos nos encaminhar segundo esta orientação.
Não poderíamos, aqui, deixar de ouvir no decorrer desta nossa segunda
intervenção, a opinião de um Prefeito, mesmo que nomeado, mas figura respeitada
nesta Cidade e que foi Secretário Municipal de Transporte. Nós reafirmamos
aqui: a nossa crítica não é pessoal, a nenhum administrador dirigimos qualquer
crítica pessoal à sua conduta como pessoa humana, como figura política. A nossa
crítica é às políticas que as administrações vêm executando, neste Município,
com relação ao transporte coletivo. Nós entendemos que os governos não são
unipessoais, os governos se constituem em equipes de políticas. Portanto são as
políticas que nós criticamos, ressalvando a dignidade pessoal dos seus
executores.
Nós queríamos, então, lembrar que muitas das questões levantadas aqui
pelos Srs. Vereadores já foram respondidas em vários Pedidos de Informações que
o Executivo recebe constantemente e procura, com agilidade, com minúcia,
respondê-los. Nós estamos constantemente dando respostas a estas indagações que
aqui recebemos. Eu penso que a presença, aqui, do Executivo, através do
Prefeito, seria para tratar das questões mais globais da política de transporte
coletivo na nossa Cidade. As questões mais de detalhes. A Comissão de
Transportes Coletivos está ouvindo constante e quase que diariamente os membros
do Executivo e nós fazemos questão de sermos ouvidos, lá, através do nosso
Secretário Municipal dos Transportes e dos técnicos da Secretaria para dar
todas as informações na minúcia do detalhe àquela Comissão e, portanto, também
a esta Casa. Então, nós gostaríamos de tocar alguns problemas mais globais, mas
sem fugir de algumas questões colocadas aqui pelos Srs. Vereadores.
Eu acho que foi acertada a decisão de nós, no final, darmos respostas
às indagações, até porque, com isso, nós podemos contemplar, talvez, a todas as
inquietações dos Vereadores e se nós fizéssemos, a cada intervenção, uma
resposta, nós provavelmente não teríamos ouvido todos os Vereadores que
desejassem se pronunciar.
O companheiro Clóvis Brum faz um elenco de vinte e uma perguntas, e
vamos responder algumas delas. Qual a empresa encontrada em pior situação
operacional e financeira? Viação Teresópolis Cavalhada, no campo operacional,
Sopal e Trevo, no campo financeiro. Houve renovação de frota em alguma empresa
nos últimos anos? Houve a compra de ônibus zero, na seguinte quantidade e anos:
aqui tem desde 1978 até 1988, e já demos a informação, inclusive, por escrito a
esta Casa e a vários Vereadores: 1978, cento e trinta e cinco ônibus, sendo que
em 1988 apenas oitenta e quatro ônibus; o ano em que houve o maior número de
ônibus comprados foi 1979, duzentos e três ônibus por ano. Quais as empresas
que investiram na renovação da frota? Principalmente Cambará, São João,
Gasômetro, Estoril e a nossa Carris, que sempre investiu na renovação da frota.
No caso da Sopal, da Sudeste, da Trevo, se houve renovação da frota,
quantos veículos e que correspondência a carros convencionais significou esta
renovação? A Sopal possui, atualmente, cento e seis veículos com mais de dez
anos; a Trevo, cinqüenta e oito veículos; Sudeste, vinte e três veículos com
mais de dez anos.
Durante a intervenção nas empresas, a administração do PT renovou a frota? Ainda não, já que teve que pagar as dívidas deixadas pelos permissionários, e pagamos a dívida com o resultado do próprio serviço do transporte coletivo. Na Carris, até agora, pudemos comprar um ônibus novo e hoje ela conta com duzentos e dez ônibus, continua precisando ser renovada, são cento e dezesseis ônibus novos que precisamos comprar. Temos gestões, e esta Casa não desconhece, junto com a Petrobrás, com a Ipiranga, a Shell na busca de recursos para aquisição de ônibus novos.
Se houve renovação, quantos veículos foram comprados, qual a dívida encontrada pelas empresas, por ocasião da intervenção, vencidas, por vencer? Isso tudo nós podemos e vamos encaminhar por escrito ao Ver. Clóvis Brum e a esta Casa. Até o momento estão aparecendo novas dívidas, o que torna difícil poder exatamente avaliar o montante de todas as dívidas, até porque muitas empresas não nos entregaram a não ser muito recentemente a sua documentação contábil, noutras nós temos que estar fazendo verdadeira sondagem minuciosa para fazer uma avaliação do perfil da dívida e da origem dessa dívida e das suas justificativas. Mas, entretanto, em abril havia em atraso 3 milhões, 917 mil, 913 cruzados novos e 99 centavos nas seis permissionárias.
Vamos à pergunta oito. Qual a dívida das empresas sob a intervenção contraída pelos interventores? Apenas as referentes à operação dos serviços, tais como combustível, peças, etc. E essas dívidas são pagas pelo próprio serviço. Nós inclusive tivemos que atender compromissos atrasados dessas empresas com as fornecedoras de combustível.
Pergunta nove, e aqui já aproveito para responder ao companheiro Vereador, pergunta o que nós estamos fazendo com os títulos protestados das dívidas assumidas pela intervenção. Nenhuma dívida contraída durante a intervenção foi protestada. Estão sendo protestadas dívidas contraídas antes da intervenção e, aí, nós temos que tratar caso a caso e é o que estamos fazendo. Quanto pagaram os interventores das dívidas contraídas pelos empresários antes da intervenção? Está prejudicada então com esta resposta.
Décima. Quanto pagaram os interventores da dívida contraída pelos próprios interventores? Até o momento, não houve qualquer cobrança de dívida que não tenha sido paga, salvo as diferenças temporais comuns a um processo operacional como o em pauta. Se as empresas de transporte coletivo em Porto Alegre antes da intervenção tinham títulos protestados por falta de pagamento, é uma pergunta. Nós já respondemos, tinham títulos protestados em grande quantidade. Encontramos dívidas do início do segundo semestre do ano anterior, principalmente dívidas do tipo IAPAS, etc.
Demais elementos, caso tenham ocorrido títulos apontados ou protestados, quais as empresas? Encaminharemos por escrito ao Ver. Clóvis Brum e à Casa quais as empresas sob intervenção que tenham títulos protestados. Já temos, inclusive, encaminhado informações nesse sentido, por escrito, aos Vereadores que nos pedem, aqueles que encaminham pedidos ao Executivo. E temos o máximo interesse em revelar a esta Casa e à opinião pública o perfil da dívida recebida pelo Executivo de parte destas empresas sob intervenção.
Qual foi a receita e a despesa sob a intervenção nos meses de fevereiro, março e abril de 1989? Estes elementos deverão ser enviados a esta Casa por escrito e no detalhe.
Os horários constantes da tabela da SMT estão sendo cumpridos? Atualmente estão sendo cumpridos em torno de 90% dos horários das empresas, neste momento.
Por que as filas e a longa espera nas paradas de ônibus, notadamente na Av. Ipiranga, nas linhas T-1 e outras? Deve-se ao fato de algumas empresas estarem operando com ônibus velhos e que quebram com muita freqüência, promovendo isto o aparecimento de filas e longa espera. Outra causa é a crescente demanda de transporte coletivo, devido à situação econômica do País, o que forma algumas linhas de difícil operação com o número de veículos existentes. Nós temos empresas que têm o monopólio de inúmeras linhas e na verdade não têm o número de ônibus com condições de trafegabilidade para atender condignamente estas linhas. Então, temos estudos na SMT para redimensionamento destas empresas ou das linhas que devem atender com possibilidade de redistribuição de linhas. Portanto, cassação de algumas linhas desta ou daquela empresa para passar para outras, segundo estudos que estamos fazendo.
Na Av. Assis Brasil, na Volta do Guerino até a Av. Baltazar de Oliveira Garcia continuam verdadeiras multidões à espera do ônibus. Isso é um trecho para lá de casa. A pergunta poderia ser da Volta do Guerino para o Centro, aí pegava a gente como experiência diária. Mas o que acontece na Av. Assis Brasil? A operação dos veículos no Corredor da Assis Brasil é prejudicada pela operação dos ônibus intermunicipais que provêm lá de Alvorada, Gravataí, Cachoeirinha, que não são controlados pelo DAER ou pela Metroplan, a quem cabe o controle das linhas intermunicipais. Então, ali há um problema seriíssimo, pois naquelas linhas há inúmeras pessoas desses Municípios vizinhos esperando ônibus; portanto, não são da linha municipal, o que não quer dizer que não tenhamos problemas de usuários de transporte coletivo municipal junto com usuários de transporte coletivo metropolitano. Na Av. Bento Gonçalves, próximo aos quartéis, nas ruas continuam muitos usuários do transporte coletivo a espera dos ônibus. Penso que se enquadra na resposta que nós já demos.
As questões levantadas pelo Ver. Clóvis Brum são todas muito
pertinentes, como todas as questões levantadas pelos demais Vereadores, ligadas
à qualidade do serviço. E nós temos dito, transparentemente, à população, que
não estamos conformes com a qualidade do serviço apresentada hoje. Oito das
quatorze empresas não estão sob intervenção e a qualidade da prestação do
serviço das empresas que não estão sob intervenção não é melhor do que as das
empresas que estão sob intervenção. Nós temos três problemas que todos conhecem
na Sopal, na Sudeste e na Trevo, temos problemas com a qualidade da prestação
de serviços, detectando boicotes, detectando sabotagens, diminuindo
intensamente isso hoje. Não há o número de boicotes e de sabotagens que
tínhamos antes, mas há necessidade de ampliar o controle dessas empresas por
dentro, por isso estamos reforçando a intervenção e, até mesmo, renovando a
intervenção nessas três. Em outras três empresas, nós, já na exposição inicial,
colocamos, conseguimos fazer com que houvesse melhorias pequenas na prestação e
na qualidade do serviço, tanto na VTC como na São João e na Nortran. Houve
cumprimento maior de horário, número maior de ônibus trafegando, mas longe
ainda do que necessita a população.
Portanto, deve haver muito mais esforço ainda de nossa parte e controle
popular. A SMT, o Governo Municipal sabe que esse serviço será bem prestado
para a população se o Poder Público tiver o controle dele por dentro e a
comunidade, a população, o cidadão organizado pudesse fiscalizá-lo nas suas
pontas, nas paradas, nas linhas e por isso estamos junto com o movimento
popular da Cidade, preparando fiscais populares que não são funcionários públicos,
mas são cidadãos interessados em ajudar na fiscalização da prestação desse
serviço.
Então, nós estamos junto com o movimento popular comunitário preparando
os cidadãos que voluntariamente se disponham a fazer essa fiscalização. Já
preparamos quarenta e oito destes cidadãos que estão trabalhando na Região Sul,
precisamos ter na Região Norte, nas demais regiões da nossa Cidade,
voluntariado do povo para ajudar na fiscalização. Também temos discutido o
transporte coletivo, no seu aspecto global, com a comunidade organizada. A
FRACAB, a UAMPA, as associações de bairros, onde temos ido constantemente.
Temos recebido as críticas da comunidade, os reclamos, as reivindicações e
temos também recolhido da comunidade a consciência de que a melhoria
substancial nesse serviço não vai se dar com a rapidez que todos nós desejamos,
comunidade e governo, mas vai se dar mantendo-se firmeza na política que
estamos desenvolvendo.
Quero também me referir a questões do ponto de vista jurídico legal. Na
verdade, a Prefeitura, o Governo não perdeu nenhuma questão importante no que
se refere ao transporte coletivo no Judiciário. Temos questões pendentes
sérias, mas em nenhum momento nas questões principais da ação do Governo ele
foi derrotado. Isso significa que agiu sempre com respeito à lei, significa que
agiu sempre entendendo que nós, num regime democrático, temos interdependência
de três Poderes - Executivo, Legislativo e Judiciário -, nós temos. Os
empresários, já por mais de uma vez, tentaram suspender a intervenção, não tiveram
ganho de causa, o Judiciário sempre negou esse pleito dos empresários. Um
mandado de segurança objetivo, logo no início da intervenção, pedia a cassação
do ato interventivo, o juiz recusou o pedido liminar e mandou notificar o
Secretário da SMT para prestar as informações, ato que equivale à resposta ou
contestação. A Procuradoria respondeu contestando amplamente. Antes de o juiz
julgar, as permissionárias intervindas desistiram da ação e pediram o
arquivamento.
A ação cautelar inominada objetivou a suspensão da intervenção ou
determinação para que o Município depositasse a importância 620 mil cruzados
novos mais 124 mil cruzados novos, semanalmente, mais o pró-labore. Foi uma ação que teve um estardalhaço na imprensa,
como se tivesse colocado o Poder Municipal num blefe. Não. A decisão do
Judiciário favoreceu a posição do usuário do transporte coletivo na nossa
Cidade e, portanto, favoreceu a posição defendida pelo Executivo Municipal.
O SR. PRESIDENTE: Prefeito Olívio Dutra, não
tenho prática de mediar, mas sinto no olhar dos Vereadores que nós necessitamos
que V. Exª responda as perguntas direcionada ao Vereador que as fez.
O SR. OLÍVIO DUTRA: Penso, Sr. Presidente, que
vai ser impraticável isso. São dezoito intervenções e algumas delas com vinte e
cinco ou mais indagações. Vamos ter que fazer aqui uma resposta no global, não
esquecendo alguns detalhes fundamentais e o compromisso do Executivo de
encaminhar por escrito, além desse relatório, as outras questões importantes
levantadas aqui pelo Vereador.
O SR. LUIZ BRAZ (Questão de
Ordem): Sr.
Presidente, então tenho que dar razão à questão levantada inicialmente pelo
Ver. Nelson Castan quando o Sr. Prefeito começava a ouvir as perguntas dos Srs.
Vereadores, de que a única forma de estabelecer debate seria responder Vereador
a Vereador, de acordo com as perguntas que fossem feitas, porque agora acho que
o debate perdeu o efeito. Se o Sr. Prefeito vai mandar, depois, por escrito, as
respostas, o debate perdeu completamente o efeito.
O SR. PRESIDENTE: Por gentileza, Sr. Prefeito,
V. Exª está sentindo também esta necessidade. E nós reparamos que, realmente,
tem Vereadores que fizeram dez ou doze perguntas. O Ver. Dilamar Machado não
fez mais que cinco perguntas. O Ver. Nelson Castan, quatro ou cinco, a média
tem sido isto. Se V. Exª pudesse responder algo a respeito, o restante ficaria
para vir por escrito, mas numa atenção especial, esta seria uma maneira de
continuarmos.
O SR. NELSON CASTAN: É uma idéia, uma sugestão
que pode estar presente na cabeça de mais Vereadores. Estas perguntas foram
anotadas pela assessoria do Sr. Prefeito. E quem sabe, agora, ensejamos uma
nova visita do Sr. Prefeito para então, já S. Exª com conhecimento da natureza,
da especificidade das questões, das preocupações de cada Vereador nos brindasse
com a volta a esta Casa, para que, então, pudesse com mais tempo ordenar o
debate organizado.
O SR. JOSÉ ALVARENGA
(Questão de Ordem): Gostaria de manifestar uma preocupação, que preocupou, também, o Ver.
Flávio Koutzii. Há uma série de perguntas feitas ao Prefeito. Ele e sua
assessoria já, certamente, arrolaram e vai ter uma resposta rápida por parte da
Prefeitura. Mas parece que o debate, hoje, aproveitando a presença do Prefeito,
deveria tratar das questões mais gerais e mais estratégicas do transporte
coletivo. Então, solicitaria à Mesa que procurássemos levar o debate neste
sentido.
O SR. PRESIDENTE: Mas como iniciamos de uma
maneira onde os Vereadores faziam perguntas e o Prefeito ficou de responder no
final, há expectativa de que as respostas viessem ao natural, no final. É
lógico que compreendemos a situação do Prefeito.
O SR. OLÍVIO DUTRA: Presidente, eu vou procurar
dar respostas sucintas. O Ver. Luiz Braz e o Ver. Dilamar Machado têm
reivindicações assemelhadas. Queremos dizer que não há reintervenção nas
empresas, há uma prorrogação da intervenção em quatro empresas. Na São João e
na Nortran, nós estamos suspendendo a intervenção mediante compromisso assinado
em que os empresários reassumem integralmente a administração das empresas
cumprindo determinadas condições, quais sejam, retornar para dentro da empresa
de transporte coletivo bens e capitais que dali tinham saído para outros
investimentos, com determinado prazo. Este acordo é assinado até o dia 31 de
dezembro deste ano. Quer dizer, se até lá não houver reinversão de recursos,
melhoria na frota, recuperação de uma administração sadia para estas empresas,
estes empresários não poderão concorrer a licitações.
Nós estamos renovando intervenções na Sopal e já temos uma deliberação
política, a Sopal nós vamos administrar diretamente assim que acabar a
intervenção, que poderá ser renovada, a critério do Executivo. O Executivo está
preparando um vasto dossiê a respeito da Sopal e da descapitalização
intencional ali praticada pelos permissionários para encaminhar à Justiça com a
sua tese de que a estes permissionários o Poder Público não deve nada. Ao
contrário, estes permissionários da Sopal é que devem devolver à empresa de
transporte coletivo os bens que dali foram desviados para outros
empreendimentos. Esta é a tese do Governo Municipal e nós vamos fornecer um
farto dossiê justificando esta tese para defender na Justiça. Até lá, nós
estamos renovando a intervenção na Sopal. Nós já tivemos, inclusive, no
Judiciário, decisão do juiz que nos possibilita continuar pleiteando a
administração direta da Sopal.
Por que nós dizemos que não é encampação? Porque encampação não é o
termo adequado, este serviço do transporte coletivo já é um serviço público. O
Poder Público permite que empresas particulares o prestem em determinadas
condições. Então, se elas não estão cumprindo essas condições, o Poder Público
tem que assumir a administração direta. Nós estamos assumindo a administração
direta da Sopal, defendendo a tese de que todos os recursos e bens de lá
desviados poderiam estar servindo à população se tivessem sido empregados pelos
permissionários na renovação da frota. Não o fizeram e, no entanto, injetaram
recursos em outros empreendimentos, que vão muito bem, obrigado, enquanto o transporte
coletivo vai muito mal.
Pergunta do Ver. Dilamar Machado sobre a renovação da intervenção na
Sudeste. No dia 25, a SMT e os permissionários da Sudeste entenderam que
poderiam fazer um acordo nos termos dos já feitos em outras empresas, salvo se
dali até o dia 31, porque tudo que puder ser acordado só poderá valer a partir
de amanhã, porque o ato de intervenção termina hoje, dia 31, e é amanhã que
começa uma prorrogação de intervenção ou uma suspensão... Então, no caso da
Sudeste, o que vale é o que foi publicado no Diário Oficial, em razão de fatos
acontecidos nos últimos dias na Sudeste, havendo a necessidade de prorrogar a
intervenção até o dia 1º de agosto.
Se o Sr. Guerreiro esteve em meu gabinete denunciando fraudes na
roleta? Nunca recebi o Sr. Guerreiro em ocasião em que ele tivesse feito esta
denúncia. Soube pela imprensa que o Sr. Guerreiro teria afastado um empregado
da empresa, por tentativa de fraude, mas não informou qual a fraude, nem
demitiu o empregado. É isso que sabemos, mas nós identificamos uma situação de
fraude, mas, ao que parece, não é questão recente, talvez seja uma prática
antiga, e o órgão competente fará a aferição necessária.
Se foram pagos 6 mil cruzados para obter informação sobre as catracas?
Não tenho esse detalhe e não me foi transmitido pelo Secretário da SMT. O certo
é que a fraude nas catracas vinha propiciando um prejuízo em torno de 100 mil
cruzados novos por mês. Portanto, se houve necessidade de ter uma despesa de 6
mil cruzados, diante de 100 mil cruzados novos de prejuízo mensal, até por aí
se justificaria. Mas quero trazer depois por escrito informação precisa sobre
esta questão.
Se tinha conhecimento de que havia ônibus com selo de vistoria vencido?
O Ver. Dilamar Machado arrola uma série de ocorrências neste sentido. Isso mais
uma vez comprova o trabalho isento e atento da Secretaria Municipal dos
Transportes. Então, a Secretaria Municipal dos Transportes não poupa nem as
empresas que estão sob intervenção para sobre elas agir fiscalizando-as.
O Ver. Luiz Braz se refere à Belém Novo, se vai ser cassada ou revogada
a permissão. Um dos graves problemas de transporte coletivo nesta Cidade sem
dúvida nenhuma é o transporte da população da Restinga, do Extremo Sul da nossa
Cidade, e a empresa que tem o monopólio de serviço naquela região é a Belém
Novo. Não está sob intervenção. Agora, estranho é que nós tínhamos que
intervir. Só porque ela já está prestes a falir, nós tínhamos que intervir?
Agora, se tivesse dando lucros mesmo que estivesse atendendo mal a população,
não precisava intervir? Então, nós interviemos, e aqui é bom porque já respondo
uma outra indagação dos companheiros Vereadores, nós interviemos no dia 14 de
fevereiro em três empresas e interviemos primeiro preventivamente, a Cidade
sabe, interviemos preventivamente porque havia notificado já na Justiça uma
intenção dos permissionários de praticar o locaute dia 16. O Poder Público não
poderia ficar omisso ou vacilante, interveio, portanto, preventivamente dia 14.
E com que critério? Com critério geográfico, uma empresa na Zona Sul, uma
empresa na Zona Norte e outra empresa na Zona Leste da Cidade, para poder com
esta ação garantir sob o controle público a parcela mais significativa do
transporte da Cidade, portanto, garantir ao cidadão de Porto Alegre que não
tivesse cassados por decisão unilateral dos empresários o direito de se
transportar na Cidade no dia 16 de fevereiro.
O SR. LUIZ BRAZ: Sr. Prefeito, tenho uma
dúvida sobre a explanação de V. Exª e quero dizer que esta informação e este
pedido não era este Vereador que fazia. Eu dizia que o Secretário Antonio
Hohlfeldt, na última vez que esteve nesta Casa, ele é quem declarou que a
empresa Belém Novo iria paralisar as suas atividades e, em paralisando, para
aquela população não ser prejudicada totalmente, ele não sabia ainda se a
fórmula seria a revogação da permissão ou a cassação da permissão, e a
colocação inclusive da Carris para suprir aquelas linhas ali foi uma das
alternativas que deu nesta Casa. Então, não é um pedido que estou fazendo...
O SR. OLÍVIO DUTRA: Nobre Ver. Luiz Braz, eu
chegaria aí, não tinha completado a resposta à sua indagação. Nós, da
Secretaria Municipal de Transportes estamos primeiro agindo com celeridade na
fiscalização de Belém Novo, nas empresas que têm sido mais fiscalizadas e mais
autuadas. Aliás, nos três primeiros meses de ação da SMT no terreno da
fiscalização, nós autuamos três vezes mais as empresas do que todo o ano
inteiro de fiscalização na Administração anterior. Isso mostra a celeridade da
ação da SMT na questão da fiscalização. Por quê? Porque nós queremos que a
população saiba que essa empresa, Belém Novo, não está cumprindo com os termos
da permissão. Portanto, isso garante concretamente que repetidas vezes isso
viesse acontecendo. O Poder Público naturalmente que tem que formular uma
cassação de linhas dessa empresa. É possível e deve acontecer cassação de linha
da Belém Novo. Para isso acontecer, nós temos que ter naturalmente alternativas
prontas. Não basta apenas cassar da Belém Novo e não ter ônibus da Carris para
colocar lá ou outra empresa que venha a participar de uma licitação para cobrir
essas áreas.
Então, nós não estamos fazendo as coisas atropeladas ou as coisas
emocionalmente. Estamos fazendo estudos sérios naquela região, e a Belém Novo,
sem dúvida nenhuma, não vai poder ficar praticando o tipo de transporte
coletivo que vem praticando há muito tempo em prejuízo da comunidade da
Restinga e da Região Sul.
O SR. ADROALDO CORRÊA
(Questão de Ordem): Nos termos do art. 202, do Regimento Interno, no seu § 2º, diz que o
Vereador terá dez minutos para formular perguntas sobre o temário que foi lido
no início, excluído o tempo das respostas, que poderão ser dadas uma a uma ou
ao final de todas. E diz no § 3º que as perguntas deverão ser objetivas e sucintas,
sendo vedado qualquer comentário posterior. Eu entendi que o Prefeito aceitou
até o momento, e entendi que neste momento protestou contra as interrupções que
estão sendo feitas à sua intervenção, portanto, eu queria que a Mesa obedecesse
ao Regimento Interno e chamasse a atenção dos Vereadores em Plenário quanto ao
Regimento Interno e à proposição que está sendo feita.
O SR. OLÍVIO DUTRA: Sr. Presidente, eu tenho o
maior respeito por todos os Vereadores e tenho, logo a seguir, anotada uma
pergunta do Ver. Edi Morelli que eu iria responder em seguida.
O SR. PRESIDENTE: Ver. Edi Morelli, a resposta
está sendo dada neste momento ao Ver. Luiz Braz. Logo em seguida será a sua
vez. Apenas para colaborar.
O SR. EDI MORELLI: A resposta que o Sr.
Prefeito deu ao Ver. Luiz Braz praticamente já respondeu a minha pergunta. Eu
apenas queria ganhar tempo.
O SR. PRESIDENTE: Nós entendemos que o Sr.
Prefeito estava respondendo a V. Exª também. Sr. Prefeito, a palavra continua
com Vossa Excelência.
O SR. OLÍVIO DUTRA: O nobre Ver. Nelson Castan,
ilustre Presidente da Comissão de Transportes, em boa hora criada pela Câmara
para acompanhar não só a intervenção, mas, também, participar do debate na
formulação de uma política de transporte coletivo para nossa Cidade, coloca que
nós teríamos intervindo com o objetivo de colher informações das empresas. Sem
dúvida nenhuma, um dos objetivos é esse, mas já também dissemos que interviemos
no momento em que era preciso a reação enérgica do Executivo em defesa do
interesse do conjunto dos usuários contra uma ação de locaute empresarial.
Então, foi uma intervenção preventiva no dia 14, dois dias após seguida de
intervenções em três outras empresas também buscando cobrir o conjunto da
Cidade, portanto, como critério geográfico, o mais fundamental na localização
dessas empresas.
E é claro que se instaurou auditoria, intensificou-se a fiscalização, a
administração das empresas passou também a fazer levantamento diário da
realidade dessas empresas, com todos os boicotes, as negativas dos empresários
de nos fornecer elementos contábeis da situação anterior ao dia da intervenção,
tudo isso demandou tempo para se fazer levantamentos fundamentais. Mas não
houvesse intervenção, nós não teríamos hoje o cabedal de informações concretas
que temos inclusive a oportunidade de trazer para esta Casa, por escrito, como
já o fizemos. Então, a intervenção está colhendo informações objetivas e
concretas. Há, na SMT, já uma estruturação em nível material e de pessoal para
que tenhamos uma forma de calcular científica e concretamente os custos desse
serviço para termos uma planilha que nos dê uma tarifa real e justa do
transporte.
Isso está sendo feito, trabalhado, e nós sabemos que não é numa
situação atípica para tirar o modelo para definir uma planilha de custos com
validade para todo ano. Nós sabemos disso e precisamos da população para fazer
ou auxiliar a fiscalização oficial e formal da Prefeitura na coleta de vários
elementos do que diz respeito a cumprimento de horário, extensão de linhas, qualidade
da prestação de serviço, etc. Então, os coeficientes de custos só são usados
quando não se conhecem os valores reais do custo. Caso se conheça o custo real,
não se usam os coeficientes como determina a lei. A lei prevê o censo anual, o
último foi realizado há mais de um ano e meio e não foi adotado nem pela SMT e
nem pela ATP.
Então, nós achamos que temos que trabalhar seriamente para dar uma
infra-estrutura material para a nossa SMT, material e de recursos humanos, e
estamos aproveitando o que há de melhor entre os funcionários públicos
municipais. E depoimentos feitos aqui por Vereadores adversários da
administração pública revelam que nós agimos corretamente aproveitando os
recursos humanos que temos na Prefeitura sem fazer qualquer perseguição do
ponto de vista partidário ou ideológico. São profissionais, são competentes,
são dedicados, estão trabalhando na SMT, inclusive os profissionais que estão
exercendo a intervenção nas empresas são funcionários de carreira.
Tenho a seguinte pergunta do Ver. João Motta: qual a responsabilidade
da Câmara na preocupação da gestão pública dos transportes? Eu penso que é
enorme e a questão do transporte coletivo é uma questão do interesse da Cidade
e, portanto, a Cidade se reflete na sua Câmara. Então, nós vemos com o maior
carinho e respeito toda e qualquer participação na crítica e na formulação de
proposta política para o transporte coletivo.
O companheiro Ver. Omar Ferri questionou sobre o pagamento por fora que
vários funcionários vinham recebendo, um pagamento por fora, não constante de
folha de pagamento, portanto, não tendo nenhum registro. Isso significa, sem
dúvida nenhuma, sonegar recursos para a própria Previdência em prejuízo desses
próprios funcionários. Nós notificamos isso ao órgão competente e ele está
fazendo as investigações necessárias.
A situação da Carris, pergunta do Ver. Omar Ferri. A situação da Carris, nós temos o seguinte em linhas gerais. Foi encontrada no início da Administração com problemas conjunturais já divulgados. A questão do atraso com a Petrobrás, convênio com a Prefeitura, problemas que foram superados e a empresa agora está operando bem, inclusive transportando mais passageiros do que o que transportou no igual período no ano passado. Permanecem ainda alguns problemas, sendo o principal o inchaço de pessoal herdado da gestão anterior, cento e setenta trabalhadores a mais de janeiro a outubro de 1988. Quinze por cento a mais no quadro de pessoal, com a frota crescendo apenas 5%. Então, um acréscimo de pessoal de 15% e a frota crescendo apenas 5%. Problemas que estamos administrando, resguardando, inclusive, os interesses dos trabalhadores numa relação com o seu sindicato.
Precisamos renovar a frota da Carris. São cento e dezesseis ônibus novos que a nossa empresa precisa para poder renovar a frota e estender algumas linhas, reassumir outras linhas que tinham sido repassadas para a iniciativa privada e que ela tem que reassumir. A Carris teve um desempenho, de janeiro, inclusive antes da intervenção, muito melhor que as demais empresas no que diz respeito ao cumprimento de horário, no que diz respeito à qualidade dos transportes; agora, nós sabemos que não está perfeito o serviço da Carris, inclusive em nível de preparação de recursos humanos, de preparação melhor dos companheiros motoristas e cobradores, para terem trato mais adequado com a população. Estamos trabalhando nesse sentido, de ter um preparo melhor no que diz respeito a recursos humanos no tratamento direto com a população.
Já colocamos a questão que o Ver. João Dib colocou, de que seriam
necessários dezenove anos para renovar a frota. A questão também entre
relacionamento equivocado entre municipalidade e permissionários em
administrações anteriores. Esta é uma posição polêmica. Temos uma visão
diferenciada, concretamente, da visão do Ver. João Dib. Respeitamo-lo como
político, como figura política desta Cidade, mas discordamos da política que
vinha sendo adotada, efetivada pelas administrações anteriores, inclusive a que
ele participou.
Companheiro Décio Schauren: quais as empresas que recebem mais
reclamações das que estão sob intervenção? É a Belém Novo e a Navegantes, que
estão sob severa fiscalização. E o problema concreto dessas empresas é deterem
monopólio de linha sem terem capacidade, número de ônibus com condições de
trafegabilidade suficiente para atender bem essas linhas. Portanto, a SMT está
estudando para redimensionar estas linhas, com a possibilidade de termos que
cassar linhas dessas empresas para redistribuí-las para outras, ou para que a
Carris, tendo condições, possa assumir estas linhas.
Há um prejuízo evidente para o usuário nessa política de
descapitalização intencional das empresas praticada pelos permissionários. Essa
descapitalização significava que os recursos obtidos com a venda da passagem,
retirado o lucro de 12%, deveriam retornar para novos investimentos no sistema,
com renovação da frota. Não tendo este tipo de reinversão e sendo encaminhado
para fora do sistema, acaba prejudicando enormemente a população. Mas mais do
que isso, mais do que prejudicar, porque a frota não é renovada, esta forma
também pressionava os empresários ou fazia com que os empresários, não
clareando bem esse esquema que tinham montado, exigissem sempre da
Administração uma pressão constante para reajuste da tarifa, a dizer que a
tarifa não dava para sustentar o serviço ou uma boa qualidade para o serviço.
Mas é claro, se você estava retirando recursos que tinham que ser investidos
para melhorar a qualidade do serviço para fora do serviço, tinha que haver na
visão do empresário uma forma de tapar esse buraco, então eles tiravam dali
para suas empresas e queriam que o Poder Público autorizasse sucessivos
reajustes de tarifas, segundo critérios e taxas que eles tinham poder para
determinar, para a população acabar pagando a descapitalização praticada por
eles nessas empresas.
Então, esse processo de descapitalização acabava gerando uma pressão
constante e permanente dos permissionários sobre o aumento da tarifa. Era
preciso que o Poder Público desvendasse essa coisa, revelasse esse mecanismo
para então a gente ver uma forma de construir uma planilha em que vai haver
reajuste de tarifa e os nossos companheiros de oposição querem jogar que não
tem que haver aumento de tarifa... Em nenhum momento, nós dissemos que não
tinha que haver reajuste. Nós temos que reajustar a tarifa, não segundo os
critérios colocados pelos interesses exclusivos dos empresários, de lucro, nós
temos que reajustar a tarifa para que os custos desses serviços sejam
compensados pela passagem e ele melhore de qualidade.
Então, nós não podemos ter um reajuste de tarifa hoje para pagar a
descapitalização das empresas. O reajuste da tarifa tem que ser, na nossa
visão, abaixo da inflação, para manter a tendência que nós inauguramos aqui a
partir do dia primeiro de janeiro. Quer dizer, vai haver um reajuste de tarifa,
sim, houve reajuste dos insumos, dos custos, desde o óleo diesel até pneus e a
própria folha de pagamento, então vai haver reajuste, nós não estamos
tergiversando nisso, não estamos fazendo demagogia, no entanto, ainda nesta
situação, sem termos uma planilha de custos construída concreta e
cientificamente, esse reajuste vai ser num percentual político, como foram os
percentuais de reajuste na Administração passada. Então, nós vamos ter um
reajuste agora, provavelmente na primeira quinzena de junho, no preço da
passagem do transporte coletivo que vai ainda colocar, com o reajuste de 41% já
havido em 19 de março, um reajuste na tarifa inferior à inflação do período de
janeiro até agora. É esta a nossa política. Reajustes vai haver, mas vai haver
abaixo da inflação do período.
As intervenções têm ido muito longe, diz o companheiro Giovani Gregol e
ele mesmo coloca que elas, na verdade, deveriam ir mais longe ainda, tal a
profundidade do problema global do transporte coletivo na nossa Cidade. Nós
concordamos com isso, nós não temos senão a preocupação de fazer com que o
transporte coletivo de Porto Alegre esteja sob o controle do Poder Público. O
Poder Público não só tem o direito como tem o dever de ter esses serviços sob
controle. Em muitas cidades do mundo capitalista, esse serviço é administrado
diretamente pelo Poder Público. É claro que não é um serviço que tem que dar
lucro, mas não pode dar os prejuízos com base no repasse da receita para os
lucros privados.
Então, nós temos que ter uma outra forma de administrar esses serviços.
Nós achamos que uma forma equivocada que as administrações anteriores vêm
repetindo é o fato de não haver licitações para novos permissionários. Há mais
de quarenta anos não há licitações para novos permissionários. Isto cria uma
casta de permissionários que se encastelam na prestação desse serviço e acabam
impondo as suas condições. Esta é uma outra demonstração do equívoco que vinha
se dando na relação Poder Público e permissionário nas administrações
anteriores. Nós achamos que este serviço terá que ir sendo assumido, gradativa,
mas paulatinamente, pelo Poder Público. Nós achamos que, no mínimo, 50% mais um
do transporte coletivo na Cidade tem que estar sendo administrado diretamente
pelo Poder Público de forma eficiente, de forma fiscalizada pela população.
Então, nós não temos a pretensão de, num primeiro lance, passar a
administrar todas as empresas, embora alguns adversários nossos quisessem,
porque sabiam que com isso nós iríamos nos enredar neste cipoal de décadas de
péssimas administrações ou de relacionamento dessas empresas com o setor
público. Nós vamos fazer aos poucos, como estamos fazendo. Primeiro, resolvendo
a questão da Sopal e ampliando a fiscalização sobre todo o sistema, buscando,
nas empresas sob intervenção, aperfeiçoar a administração delas e melhorar a
qualidade desses serviços. Esses são os nossos objetivos imediatos, de médio e
também de longo prazo. Longo prazo para nós naturalmente é o período que temos
compromisso de estar na Administração Pública Municipal. Nós não queremos
transferir problemas para outras administrações, então nós temos o compromisso
de agir com muita firmeza a partir de agora no controle efetivo desse serviço
que é público.
O Ver. Artur Zanella diz que a Trevotur, se não é anterior à data
colocada. Confesso que é um particular, se a Trevotur é antes ou é depois da
data colocada no nosso relatório, o certo é que o que nós queremos dizer é que
essas empresas têm uma ramificação de outros serviços e que nós com a
intervenção descobrimos que esses outros serviços, mesmo no transporte
coletivo, como é o caso das lotações da Trevo, estavam sendo sustentados pela
empresa do transporte coletivo. Então, a manutenção das lotações, o próprio combustível
que era para os ônibus e estava sendo usado para as lotações e para a Trevotur
também, encontramos ônibus da Trevotur lá nas garagens, tendo reparações lá nas
garagens, portanto, contribuindo para a elevação do custo da passagem do
transporte coletivo. O Delegado Marchísio assumiu o caso das roletas por
decisão do DPM, a quem o assunto foi submetido pela Prefeitura. Portanto, no
assunto não nos cabe estar fazendo juízo de valor sobre a figura desse
Delegado.
Se a receita da Sopal é usada em 85% para pagar pessoal, como pode a
empresa funcionar com 15% da receita? É uma questão de, naturalmente,
administrar, isso é uma realidade herdada na Sopal, que era pior, inclusive, e
eu penso que essa situação se agravou a partir da descapitalização dessa empresa.
Se está sendo usado o fundo de renovação de frotas? Nós temos o maior
interesse em usar o fundo de renovação de frota, coisa que os empresários
jamais fizeram na relação que tinham anteriormente com a Prefeitura e com a
prestação do serviço.
A PMPA tem uma política de ir assumindo gradativamente, mas, porém, com
bastante firmeza e critério esse serviço. Nosso objetivo é que o Poder Público
administre 50% mais um dos transportes coletivos na nossa Cidade. O restante
pode ser prestado por empresas particulares, contanto que chamadas via
licitação e prestando o serviço segundo as condições impostas pelo Poder
Público no interesse dos usuários.
O SR. ARTUR ZANELLA (Questão
de Ordem): Sr.
Presidente, solicito que as notas taquigráficas sejam encaminhadas à CPI, para
fazer parte no rol de documentos.
Pediria que o Sr. Prefeito responda se as empresas sob intervenção e a
Carris estão em dia com o IAPAS, INPS, ISSQN e se estão pagando o Consórcio
Operacional de Porto Alegre. V. Exª não me deu essas informações.
O SR. OLÍVIO DUTRA: Não estão em dia. É uma das
grandes dívidas recebidas pela Administração Popular, antes das intervenções,
dívidas antigas. A Carris está em dia e poderemos detalhar no assunto por
escrito.
O Ver. Elói Guimarães foi Secretário de Transportes do Município,
naturalmente que com todo o respeito às suas posições, ao seu Partido, à
Administração da qual participou, mantemos posição de que a política global da
Administração anterior, e das anteriores, não era boa, era equivocada. Vejamos a
falta de licitação, o desaparelhamento da SMT, vejamos também o esvaziamento em
nível de recursos humanos da SMT. Se havia pessoas, como havia de fato,
dedicadas, eram muito poucas e estas continuam sendo aproveitadas pela
Administração Popular. E não há dúvidas de que durante a última Administração o
cálculo foi feito seguindo a lei. Nós não colocamos isso em dúvida. O que
ocorre é que ficou registrado que os dados eram fornecidos pela ATP, que nos
últimos meses as tarifas foram fixadas por critérios políticos, como afirmou o
próprio Presidente da ATP na Comissão de Inquérito.
Então, nós temos a visão que efetivamente nós temos que reaparelhar de
material e recursos humanos a nossa SMT para ela poder contestar as informações
dos empresários. Os empresários têm uma estrutura montada, já antiga e com
recursos do próprio sistema do transporte coletivo, via administração do
vale-transporte. A Prefeitura está na Justiça buscando ela administrar essa
receita que é significativa e através da administração desta receita dotar-se o
Poder Público de infra-estrutura material, de recursos humanos, para se mostrar
eficiente e eficaz no confronto de dados na hora de definir na mesa de
negociação com os permissionários o custo do serviço e o valor da passagem.
O critério adotado na intervenção nós já nos referimos aqui. A
intervenção preventiva num primeiro momento, o critério de intervenção
geográfica, há empresas na Região Sul, na Região Norte, a Leste, naturalmente
buscando através da intervenção se assenhorear de dados que não nos seriam
fornecidos por livre e espontânea vontade dos empresários e também buscar
aperfeiçoar a qualidade deste serviço, o que nós estamos, num esforço ingente.
Sabemos que enquanto não pudermos comprar quatrocentos e cinqüenta e três novos
ônibus para a frota global da Cidade, esse serviço não vai ter a qualidade que
a população merece. Esforços nós não deixaremos nunca de fazer neste sentido, e
resultados nós achamos que em seguida surgirão.
A questão da tarifa da Carris, uma tarifa diferenciada para a Carris é
um estudo que estamos fazendo na Prefeitura. A Carris não participa do COPA e,
pretendemos que ela continue não participando. Nós temos, no entanto, de fazer
esse estudo avaliando bem, linha por linha, os custos da nossa empresa, que não
raro são colocados para a nossa empresa uma série de outras atividades que a
empresa permissionária não quer fazer. Por exemplo: colocar um ônibus à
disposição de uma entidade assistencial. Isso significa retirar um ônibus da
linha e significa, portanto, aumentar os custos. Esses custos têm que ser
contabilizados e nós temos que fazer um balanço sério de tudo isso que a Carris
presta enquanto empresa de transporte coletivo e daqueles que ela é chamada a
prestar enquanto empresa pública para o movimento assistencial comunitário.
Estamos fazendo estudos neste sentido.
O companheiro José Valdir colocou que nós não podemos estar atribuindo
à intervenção problemas que são históricos no sistema de transporte. Acho que
isso é compreendido por todos os Vereadores, mesmo que no debate político, num
ano eleitoral, venhamos a querer uns desgastar os outros para ver quem tem
maior vantagem para suas candidaturas na disputa presidencial. Percebemos que
existem muitas críticas que vão muito por aí, mas, no fundo, achamos que nenhum
Vereador deixa de ter a compreensão de que o sistema de transporte tem
problemas estruturais e antigos e precisam ser resolvidos não no varejo, mas no
atacado e nós temos que, enquanto administração, enquanto governo, atacar no
varejo sem esquecer de encaminhar propostas no atacado. É o que estamos
fazendo. Vamos ter imperfeições, somos humanos, mas estamos abertos a críticas
e à participação popular na denúncia e na reivindicação e na reclamação, o que
vai fazendo com que aperfeiçoemos a nossa prática. As causas estruturais do
problema do transporte coletivo estão muito na drenagem de recursos, uma
descapitalização intencional do sistema. Revelou também uma fragilidade na
fiscalização do Poder Público e a questão de um clube fechado de exploração,
sem concorrência pública na renovação das permissões nas últimas décadas, e a
falta de controle de um sistema que funcione eficiente e eficazmente. Isso para
citar três questões que penso estarem ligadas às causas estruturais do problema
do transporte coletivo na nossa Cidade.
O que está sendo feito para a participação da população? Nós temos
feito constantes reuniões, muitas vezes por convocação do próprio movimento
popular comunitário da nossa Cidade, outras vezes por iniciativa do Governo, da
SMT, reunindo com as associações comunitárias, as associações de vilas, de
moradores, com entidades, com a UAMPA, com a FRACAB. A cada momento importante
de decisão, de deliberação sobre transporte coletivo, temos buscado realizar
consultas amplas com esses setores populares que são os verdadeiros sujeitos da
política do transporte coletivo na nossa Cidade, porque são os usuários e são
os mais sacrificados também com a qualidade desse serviço.
E nós achamos que tem que haver uma participação direta, constante e permanente
do movimento popular comunitário na fiscalização do transporte coletivo,
através de fiscais voluntários, mas que saibam o que estão fazendo, portanto
suficientemente treinados por técnicos da Secretaria Municipal de Transportes
em convênio com as entidades comunitárias e populares da nossa Cidade, além do
Conselho de Transportes Coletivos, com participação permanente da UAMPA e de
outras entidades, e reuniões plenárias de usuários do transporte coletivo nas
regiões da Cidade onde o problema é mais crucial. E até mesmo a definição do
remanejamento de linhas não pode ser uma decisão meramente técnica, embora o
trabalho dos técnicos seja fundamental, mas a população, que vive o problema, é
que tem que dizer se o roteiro do ônibus tem que ser diferente ou não, se tem
que passar em frente à sua casa ou apenas na esquina.
Então, nós temos que envolver efetivamente a comunidade na definição do
transporte coletivo, no seu detalhe e na política global do transporte coletivo
para a Cidade. É claro que a descapitalização das empresas - é a nossa tese -
fere os termos de permissão, então, é, na verdade, um rompimento do contrato de
permissão para a prestação de serviço, mas é uma tese nossa e queremos
comprovar isso no caso da Sopal, encaminhando todo o nosso dossiê, todas as
nossas informações e avaliações para o Judiciário.
O companheiro Flávio Koutzii, último Vereador a intervir: o que pensa a
Prefeitura, após quatro meses, como os interesses da população deverão ser
defendidos e como a Câmara deve responder aos esforços do Executivo? Então,
reafirmo, aqui, que a Câmara de Vereadores tem um papel importantíssimo no
debate dessa e de tantas outras questões, mas nós estamos, hoje, incidindo
sobre essa questão e queremos dizer que acompanhamos muitos interessados,
inclusive, em aprender com as intervenções dos Vereadores, aqui, tanto na
Comissão de Transportes Coletivos quanto no Plenário, a respeito das ações
nossas enquanto Executivo nesse setor fundamental para a Cidade. Nós não
fugiremos, naturalmente, da responsabilidade do Executivo, nenhum ato nosso
queremos transferir para outro, nós queremos é ampliar o processo de consulta,
possibilitar que amplos setores populares participem das decisões, mas não
fugimos em nenhum momento da responsabilidade enquanto Prefeito e enquanto
Governo, tudo o que fizermos de acertado ou de equivocado, nós assumimos com a
responsabilidade que temos, com a transparência que tem sido a forma de nos
conduzir na Administração Pública.
O SR. DILAMAR MACHADO: Sr. Prefeito, gostaria de aproveitar,
vejo que o companheiro está encerrando, entre as questões que formulei ao
Prefeito, me parece que uma, a última questão formulada, ela diz respeito
globalmente à política de transporte e ela está assentada no binômio renovação
e vida útil da frota. Eu comentava a V. Exª que o Brasil é um país muito pobre
economicamente e a Prefeitura de Porto Alegre tem muitas dificuldades e a
população de Porto Alegre também para nos darmos ao luxo de ter uma legislação
prevendo uma vida útil de apenas dez anos para um ônibus, que é um veículo
caríssimo, de difícil renovação, conforme V. Exª expôs. Inclusive, a Cia.
Carris apenas pôde comprar um ônibus até o fim de maio. Pergunto a V. Exª se o
Executivo admite o estudo em torno da alteração dessa exigência que poderia vir
para exame da Câmara no sentido de que os ônibus fossem controlados pelo seu
estado de conservação e não pelo ano de fabricação. Isto seria um fator de
desequilíbrio no custo da tarifa, a menos, porque na composição tarifária há um
item, 1.13, em que a renovação da frota pesa na tarifa. Por isto insisto em
ouvir de V. Exª qual o seu posicionamento, se há algum estudo por parte da
Administração em relação a este item.
O SR. OLÍVIO DUTRA: Nós não só temos esta
preocupação, como também estamos fazendo levantamentos das melhores condições
de trafegabilidade de um veículo e nós, no entanto, achamos que há que se ter
um cuidado sério a respeito da segurança dos ônibus, dos usuários. Não temos
uma posição firmada que esta idade de dez anos é muito apertada e que teríamos
que estender, não temos uma posição firmada; portanto, todo e qualquer debate
em torno desta questão, queremos contribuir com estudos técnicos da SMT e
comparativos com a situação do transporte coletivo em outras cidades. Não
queremos fazer uma alteração no que diz respeito à lei que trata da idade útil
dos ônibus isoladamente de outras capitais, de outras cidades que também têm
este problema da renovação da frota.
Não temos uma posição clara a respeito disto. Agora, temos uma
preocupação: não pode haver qualquer frouxidão no que diz respeito à segurança
do usuário do transporte coletivo, portanto, à qualidade da frota. Há na
verdade esta descapitalização das empresas que resultou na não-renovação da
frota; é, também, um crime praticado contra os usuários, já que os coloca
dentro de ônibus onde se arrisca a qualquer momento sofrer um acidente de
proporções graves. Então, temos esta preocupação, é a nossa direção com relação
à questão levantada pelo nobre Ver. Dilamar Machado, que é pertinente a
preocupação. Nós vamos estar abertos às propostas de formulações e queremos
contribuir com estudos técnicos da SMT.
O SR. AIRTO FERRONATO: Sr. Prefeito, pelo que se
diz, na estrutura da SMT nós não temos um órgão permanente que fiscalize e
audite as informações prestadas periodicamente pelos permissionários. O próprio
Sr. Prefeito afirma que a tarifa era estabelecida por dados fornecidos pela
ATP. Então, a minha colocação é a seguinte: uma vez não existindo um órgão
técnico especializado nesse tema, de auditoria das contas, uma vez levantada a
auditoria, logo nós teríamos perdido o controle, mais uma vez, das informações
e seríamos forçados, futuramente, a novas intervenções. Já existe concurso
público para se formar um órgão fiscalizador na SMT?
O SR. OLÍVIO DUTRA: Nós estamos reforçando o
órgão fiscalizador já existente na SMT. Há necessidade de recursos humanos, mas
nós, no entanto, estamos vendo as coisas no global, o peso da folha de
pagamento no custo da Prefeitura como um todo. E estamos trabalhando no sentido
de ter todos os profissionais com formação, capacitação, dedicação e interesse
espalhados pela máquina pública e que queiram ir trabalhar na Secretaria
Municipal dos Transportes nesta área, ir para lá. Nós estamos fazendo,
inicialmente, esta política.
O SR. ELÓI GUIMARÃES: Prefeito, não é um
questionamento, senão uma informação à colocação de V. Exª no que diz respeito
ao censo. Foi realizado um censo em setembro de 1987 e, a partir dessa data,
foi observado o censo em todos os cálculos tarifários, conforme estudos que
estão arquivados na Secretaria dos Transportes. Apenas como informação, diante
da colocação feita por V. Exª, de que não tinha sido observado o censo, a não
ser o caso da Carris, onde o IPK é maior, mas se manteve o mesmo IPK do sistema
convencional. É uma informação que eu daria a Vossa Excelência.
O SR. OLÍVIO DUTRA: Acolho a informação e vamos
checar nos nossos registros.
O SR. PRESIDENTE: Eu gostaria de colocar a
palavra à disposição das Lideranças para as saudações finais para que nós
pudéssemos fazer a saudação rapidamente.
O SR. VIEIRA DA CUNHA: Sr. Presidente, para as
considerações finais em nome da Bancada do PDT, Presidente da Comissão de
Transportes desta Casa, Ver. Nelson Castan.
O SR. NELSON CASTAN: Sr. Prefeito Olívio Dutra,
eu gostaria de saudar sua presença aqui na Casa e dizer que esta prática é
extremamente salutar, digamos assim, o encaminhamento da questão, como eu disse
no início, não me pareceu o mais apropriado, mas eu entendo que no final das
contas o pronunciamento de V. Exª ajudou os Vereadores desta Casa a compreender
um pouco mais sobre os propósitos, as intenções, a coerência que busca a
Administração Popular.
Eu tinha aqui comigo pronto um Requerimento que eu iria encaminhar à
Mesa, mas não o fiz, solicitando o retorno de V. Exª neste Plenário.
Posteriormente me foi sugerida a vinda de V. Exª no âmbito da Comissão de
Inquérito, a qual eu presido. Eu entendo que um convite dessa natureza não seja
adequado à autoridade do Prefeito, uma vez que todas as informações minuciosas,
detalhadas que nós estamos colhendo, como é a característica, natureza de uma
Comissão de Inquérito, nós as estamos obtendo conversando com os seus
assessores diretos, da sua confiança, e certamente obtendo deles as respostas
que V. Exª no daria se fosse convidado a vir na Comissão de Inquérito. Eu
entendo, portanto, que é apropriado, e eu já faço informalmente o convite para
que V. Exª venha a esta Casa no âmbito da Comissão Permanente de Transportes,
para que se inicie, quem sabe, um processo de reordenamento institucional,
operacional do transporte coletivo na nossa Cidade.
As intervenções, eu entendo, ao invés de ajudar neste sentido estão
causando um trauma muito grande, e eu quero participar junto com V. Exª de um
esforço, a partir desta Casa, para que se reconstrua um ordenamento
institucional e operacional para o transporte coletivo em Porto Alegre.
Oportunamente, oficiarei ao Ver. Valdir Fraga, Presidente da Câmara, uma
solicitação da sua presença no âmbito da Comissão Permanente de Transportes,
para que iniciemos então este processo de reconstrução do transporte coletivo
na cidade de Porto Alegre. Em nome da Bancada do PDT, saúdo V. Exª e
sinceramente desejo sucesso nos propósitos anunciados pela sua Administração.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Luiz
Braz.
O SR. LUIZ BRAZ: Eu também faço, de acordo
com indicação do Ver. Leão de Medeiros, pela Bancada do PDS, dizendo que quando
nós insistimos no início para que o Sr. Prefeito respondesse a todas as
perguntas, porque, dizia eu numa Questão de Ordem, que o debate não seria
válido se o Prefeito não respondesse, eu fazia assim porque entendo que esta
aproximação entre Legislativo e Executivo é muito salutar para que as questões
do Município possam ser resolvidas. Eu vejo que o Sr. Prefeito cansou nesta
tarde respondendo a tantas perguntas, mas acho que nós demos um passo à frente.
Acho que nós do Legislativo ganhamos com a sua presença aqui, respondendo as
perguntas que foram feitas, como eu acredito também que V. Exª tenha levado
deste Legislativo a impressão daquilo que o Legislativo pensa em relação à
intervenção que está sendo realizada neste exato instante no serviço de
transporte coletivo.
Mas pode ter certeza absoluta, Sr. Prefeito Municipal, que tanto esta
Casa como a atitude do Governo de V. Exª querem resolver os problemas que a
todo o momento se colocam à nossa frente. E penso que a volta de V. Exª a esta
Casa para tardes como esta que nós passamos aqui, acho que ajuda muito a resolução
desses problemas. Queremos agradecer a V. Exª, saudar a V. Exª, a presença que
V. Exª teve aqui e cumprimentá-lo pelas respostas dadas. Se não conseguiu
responder a todos os Vereadores e a todos os quesitos, acredito que foi até por
questão de tempo. Por isso, solicitaria ao Sr. Presidente desta Casa e ao Sr.
Prefeito Municipal que realizássemos novas Sessões como esta, porque eu acho
que o Município precisa disso. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Clóvis
Brum.
O SR. CLÓVIS BRUM: Na condição de autor deste
momento tão significativo para a Casa, Sr. Presidente, e tão generosamente
acolhido pelos companheiros Vereadores na sua unanimidade, eu desejo também
registrar dois aspectos. O primeiro é o nosso contentamento por tê-lo aqui,
Prefeito, debatendo um assunto importante, sério, de envergadura como é essa
prestação de serviço público que deve a Prefeitura de Porto Alegre ao usuário
do transporte coletivo e que não está boa. Então, a presença de V. Exª aqui é
muito importante, sempre será bem vinda e acho que essa prática deve perdurar e
ser mais freqüente. Por isso, eu agradeço as atenções de V. Exª no cumprimento
desse convite.
Agora, com toda tranqüilidade, com toda franqueza, com toda lealdade, Prefeito,
eu não posso retornar ao aconchego de minha família com a consciência do dever
cumprido. Eu acho que as respostas de V. Exª, principalmente as que não puderam
ser expressadas nesse momento, ainda me deixam intranqüilo e eu espero que elas
venham por escrito, conforme V. Exª se comprometeu no Plenário, o mais rápido
possível, porque a situação dramática que vive o usuário do transporte coletivo
em Porto Alegre está a exigir de todos nós; da Câmara, normas legislativas, e
da administração de V. Exª uma ação administrativa para se resolver
definitivamente a angústia da população em torno da falta de um transporte mais
eficiente.
Portanto, Prefeito Olívio Dutra, eu seria incoerente e não seria leal
se dissesse que as coisas vão bem. Absolutamente. Nós ainda temos que avançar
muito e fazer com que a população tenha efetivamente o transporte coletivo
adequado e estou certo, sim, de que V. Exª está tratando desse assunto com todo
o interesse. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Omar
Ferri.
O SR. OMAR FERRI: Sr. Prefeito, em certa
ocasião, há um mês e meio ou dois meses, o Presidente da Associação dos
Empresários dos Transportes Coletivos da Capital teve a coragem de dizer que os
transportes coletivos de Porto Alegre eram o pior negócio do mundo. Hoje começo
a entender, um pouco, o que foi e o que é esse sistema de transportes da cidade
de Porto Alegre. Vejo, por exemplo, que embora as tarifas tenham sofrido uma
redução de 30%, arredondando, o transporte ainda continua de pé e o sistema não
falhou. É com muito pesar que tomo hoje conhecimento de toda a abrangência
desse complexo e intrincado problema que me faz lembrar de uma espécie de
multinacional enraizada até em setores das atividades comercial e industrial.
Fico tranqüilo, Sr. Prefeito, com a Administração Popular, de V. Exª,
pela clareza através qual V. Exª nos ilustrou hoje a respeito desse magno
problema. De uma coisa tenho certeza, absoluta certeza, em primeiro lugar, a
administração de V. Exª, da qual o meu Partido não participa, tem dado provas
de três coisas absolutamente necessárias à administração de Porto Alegre:
honestidade, seriedade e transparência. O que é importante é que o Partido
Socialista Brasileiro, através da sua Bancada, acreditou na explicação e na
explanação de Vossa Excelência; portanto, fica tranqüilo de que a Administração
de V. Exª alcance nesse dramático setor todos os objetivos aos quais ela se
propôs. Muito obrigado, Sr. Prefeito.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Lauro
Hagemann.
O SR. LAURO HAGEMANN: Meu caro Prefeito, como
participante da Frente Popular, o meu Partido se sente honrado com a presença
de V. Exª nesta Casa, sobretudo, pela oportunidade que teve de dizer, em alto e
bom som, como anda a intervenção no sistema de transportes de Porto Alegre, que
nós apoiamos desde o primeiro instante. É elogiável a atitude do Ver. Clóvis
Brum ao convidá-lo para vir dizer aqui da tribuna tudo o que nos disse. Eu
tenho acompanhado esse processo do transporte coletivo na Cidade não é de hoje,
mas desde a outra vez que passei por esta Casa, e me julgo um pouco autorizado
a fazer um retrospecto para dizer que o momento que estamos vivendo na Cidade,
hoje, é de extrema importância e, para felicidade nossa, da Frente Popular, os
empresários provocaram essa intervenção no momento em que nós não a
desejávamos. Mas se nós aceitamos e tivemos que aceitar o desafio foi para o
bem da Cidade, porque esse sistema estava apodrecido e ia esboroar-se nas
nossas mãos sem que tivéssemos a oportunidade de conhecê-lo antes que isso
acontecesse e esta oportunidade nós estamos tendo. Portanto, talvez sem querer,
os empresários nos presentearam com essa intervenção. A Frente Popular tem essa
tarefa pela frente, de proporcionar à população porto-alegrense por um
mandamento constitucional, um serviço de transporte adequado que sabemos hoje
não é o mais eficiente, não é o mais saudável, está cheio de imperfeições, mas
que haveremos de corrigir para dar à Cidade o que ela precisa, o que ela
merece.
Agradeço o comparecimento de V. Exª e a Cidade vai ficar agradecida à
Câmara e a V. Exª pelos esclarecimentos prestados. Temos certeza de que V. Exª
ainda vai voltar a esta Casa, talvez não convidado, até espontaneamente, para
dizer mais coisas que estamos descobrindo no submundo do transporte coletivo.
Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: A seguir, a palavra com o
Ver. Flávio Koutzii, Líder do PT nesta Casa.
O SR. FLÁVIO KOUTZII: Nós queríamos, em nome da Bancada
do Partido dos Trabalhadores, mais do que agradecer a presença do Prefeito e
companheiro, dizer que, realmente, a tarde de hoje foi importante, pelo menos
para nós. A intervenção do companheiro Prefeito foi extremamente clara, precisa
e com aquilo que nós sempre buscamos quando escutamos um homem político falar,
substância, tinha substância. Falou de coisas concretas, não explicou os
problemas por generalizações e isso nos fortalece muito, os seus companheiros
que partilham e se preocupam com o destino dessa Administração. Isso para nós é
muito importante.
Queria contrariar e ao mesmo tempo tranqüilizar o Ver. Clóvis Brum, não
leve a intranqüilidade para casa porque, certamente, se houve uma coisa
evidente nessa Sessão de hoje é que no fundamental todas as perguntas foram
respondidas, um ou outro detalhe pode ter ficado de fora, mas nós lamentaríamos
muito que passasse como uma síntese, uma caracterização desta Sessão pela
negativa daquilo que ela teve de mais positivo: dados concretos, informações precisas,
um quadro claro da situação. E ficou para nós, e é bom que assim seja, o
desafio de nos situarmos frente a isso como homens públicos e como parte
daqueles que sentem a responsabilidade pela Cidade. Muito obrigado ao nosso
Prefeito.
(Revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Antes de encerrar, colocaria
a palavra à disposição do Sr. Prefeito para se despedir.
O SR. OLÍVIO DUTRA: Nobre Presidente, Ver.
Valdir Fraga, companheiros Vereadores, também sinto neste momento de
encerramento desta Sessão uma satisfação de ter partilhado com a Câmara a
preocupação sobre um serviço da maior importância para milhares de
porto-alegrenses. Senti que nas divergências e diferenças nós podemos
encontrar, inclusive, riqueza de propostas. O Executivo Municipal vai estar
presente em todas as oportunidades em que esta Casa propiciar e debater esse
tema, quer seja através dos companheiros responsáveis diretamente pela área,
quer seja pela presença do próprio Prefeito, faremos isso sempre com prazer e
responsabilidade.
Queremos dizer que não vamos começar agora essa relação com o
Legislativo, nós temos tido desde que assumimos um respeito muito grande com a
Câmara, porque não poderia ser diferente. Para que sejamos respeitados e para
que haja a perfeita sintonia e harmonia entre os Poderes Legislativo, Executivo
e Judiciário não deveria ser outro o nosso comportamento. Então, não vamos
começar a partir de uma outra visita a esta Casa a resolver o problema do
transporte coletivo, nós já estamos, enquanto Executivo, encaminhando soluções
para o problema do transporte coletivo na nossa Cidade. É claro que isto é
diferente de outras visões, que nós respeitamos, mas queremos afirmar aqui, já
estamos encaminhando soluções concretas para o problema do transporte coletivo.
E não vendemos a ilusão que este setor, há tantas décadas com problemas
estruturais sérios, seja estruturado em alguns meses. Sabemos que precisamos
muito mais esforços ainda. E sabemos o que significa o desgaste junto à
população, por não entendermos com a urgência e a imediatez as suas
reivindicações na área. Mas, nós não vamos precipitar nada e fazer as coisas
com atropelo ou demagogicamente, porque é um ano de eleições e que nós temos
que resolver, ou dar aparência que resolvemos um problema estrutural com meias medidas.
Nós estamos encaminhando medidas profundas nessa questão.
E, portanto, todo o debate lá na comunidade, diretamente, e aqui, onde
o matiz político-ideológico da Cidade se reflete na Câmara, vai ser sempre
oportuna, bem vinda e necessária.
Agradecemos essa oportunidade da Casa, por iniciativa do Ver. Clóvis
Brum, e a deferência e a paciência de todos vocês, companheiros Vereadores, de
terem nos ouvido. Voltaremos toda vez que esta Casa e todos nós acharmos
oportuno para o bem da nossa Cidade. Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE: Não haveria necessidade de a
Presidência dos trabalhos cumprimentá-lo, tendo em vista que os companheiros
Líderes que representam os trinta e três Vereadores já o fizeram, mas não posso
deixar de colocar o nível de entendimento entre o Legislativo e o Executivo.
Assim como V. Exª esteve aqui a nosso convite, tenha certeza que quando formos
convidados a interesse da comunidade estaremos lá, ao inteiro dispor.
Encerro agradecendo a presença de V. Exª, sua assessoria, também dos
nossos companheiros que estão aqui assistindo este debate, que foi muito
importante para todos nós.
(Levanta-se a Sessão às 18h50min.)
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